A Extrema Direita existe?

Em primeiro lugar, o Capitalismo não nasceu a partir de uma teoria política isolada, como aconteceu com a Social Democracia de Ferdinand Lassalle (1825 – 1864) e o Socialismo Histórico de Karl Marx (1818 – 1883) e Friedrich Engels (1820 — 1895).

Um dos aspectos que mais se associa ao Capitalismo é o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos, que foram chamados pela Esquerda de “burguesia”, “elite,” “opressores”, “patriarcas”. Mas se olharmos para trás veremos que isto sempre existiu na história da Humanidade, milhares de anos antes da Revolução Industrial, nas figuras dos Reis e Imperadores, Faraós e Marajás, Xeiques e Papas, Senhores feudais e líderes religiosos.

Didaticamente, o Capitalismo surgiu depois do declínio do feudalismo que consistia em uma organização econômica, social e política da Idade Média que não era fundamentado no comércio, mas tinha como base as trocas naturais entre o senhor feudal e os camponeses. As três classes no sistema feudal eram: nobreza, o clero e os servos. A expansão da produção artesanal e do comércio fez com que muitos camponeses deixassem o local de trabalho e fossem para as cidades. Eles se uniram aos artesãos e deram origem a uma nova classe, a burguesia, que conseguia riquezas através do comércio e aumentavam os lucros dos banqueiros por meio da circulação do dinheiro. A partir de então foram desencadeados os primeiros indícios do capitalismo, como o acúmulo de riquezas e a expansão de negócios. O capitalismo foi consolidado de fato como sistema econômico com a Revolução Francesa (1789-1799), a Revolução Industrial e a Independência dos Estados Unidos (1776 e 1783).

O capitalismo está estabelecido na história em 3 fases, chamadas de Comercial, Industrial e Financeiro. 1. Capitalismo comercial: é também conhecido como “pré-capitalismo” ou de “mercantilismo”, que vai do século XVI ao XVIII e que inclui a Expansão Marítima e a Expansão Comercial e produzia lucros através do comércio de metais preciosos, recursos agrícolas, comercialização de escravos, etc.; 2. Capitalismo Industrial: marcado pela Revolução Industrial, caracterizada pela transição da produção manual para a industrial através do advento das máquinas. A industrialização deu origem à classe operária, em que os trabalhadores recebiam dinheiro em troca dos serviços prestados. Sua primeira fase abrange o período de 1760 a 1860 e a Inglaterra foi a nação destaque dessa fase, que deu origem às críticas e à teoria do Socialismo Marxista; 3. Capitalismo financeiro: também denominado de “monopolista”, teve início no século XX e está fundamentado na ligação entre os bancos e o setor industrial. Muitos acontecimentos históricos estão ligados a esta fase econômica: a Segunda Revolução Industrial, a Crise de 1929 e a criação da União Soviética.

A palavra “Capital” vem do latim ‘capitale’, derivado de ‘capitalis’ (com o sentido de “principal, primeiro, chefe”), que vem de “cabeça”, surgida na Itália nos séculos XII e XIII (pelo menos desde 1211) com o sentido de fundos, existências de mercadorias, somas de dinheiro ou dinheiro com direito a juros. Em 1283 é encontrada referindo-se ao capital de bens de uma firma comercial. O termo “Capitalista” refere-se ao proprietário de capital, e não ao sistema econômico, e o seu uso é anterior ao do termo Capitalismo, datando desde meados do século XVII. O Hollandische Mercurius usa o termo em 1633 e 1654 para se referir aos proprietários de capital.

O termo “Capitalismo” surgiu em 1753 na Encyclopédia, com o sentido estrito do “estado de quem é rico”, mas foram Karl Marx e Friedrich Engels que usaram o termo Capitalista (Kapitalist) em “O Manifesto Comunista” (1848) para se referirem a um proprietário privado de capital e foram os primeiros a se referirem ao “Sistema Capitalista” (Kapitalistisches System) e ao modo de produção capitalista (kapitalistische Produktionsform) em “O Capital” (1867), criando a oposição entre a burguesia e o proletariado oprimido e explorado pelo dono da fábrica: “A indústria moderna transformou a pequena oficina do antigo mestre da corporação patriarcal na grande fábrica do industrial capitalista. Massas de operários, amontoadas na fábrica, são organizadas militarmente. Como soldados da indústria, estão sob a vigilância de uma hierarquia completa de oficiais e suboficiais. Não são somente escravos da classe burguesa, do Estado burguês, mas também diariamente, a cada hora, escravos da máquina, do contramestre e, sobretudo, do dono da fábrica. Esse despotismo é tanto mais mesquinho, odioso e exasperador quanto maior é a franqueza com que proclama ter no lucro seu objetivo exclusivo.” (O Manifesto Comunista)!

Devido à vagueza do termo “capitalismo”, emergiram controvérsias quanto ao capitalismo. Em particular, há uma disputa entre o capitalismo ser um sistema real ou ideal, isto é, se ele já foi mesmo implementado em economias particulares ou se ainda não e, neste último caso, a que grau o capitalismo existe nessas economias. Sob um ponto de vista histórico, há uma discussão se o capitalismo é específico a uma época ou região geográfica particular ou se é um sistema universalmente válido, que pode existir através do tempo e do espaço. Alguns interpretam o capitalismo como um sistema puramente econômico; Marx, por sua vez, admite que o mesmo é um complexo de instituições político-econômicas que, por sua vez, determinará as relações sociais, éticas e culturais.

Foram Marx e Engels que deram origem à teoria revolucionária da Ditadura do Proletariado, à Guerra Fria e aos conflitos que até hoje vivemos no Brasil e no mundo: “O proletariado passa por diferentes fases de desenvolvimento. Logo que nasce começa sua luta contra a burguesia. Em princípio, empenham-se na luta operários isolados, mais tarde, operários de uma mesma fábrica, finalmente operários do mesmo ramo de indústria, de uma mesma localidade, contra o burguês que os explora diretamente. Não se limitam a atacar as relações burguesas de produção, atacam os instrumentos de produção: destroem as mercadorias estrangeiras que lhes fazem concorrência, quebram as máquinas, queimam as fábricas e esforçam-se para reconquistar a posição perdida do artesão da Idade Média.” E “A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; nada de estranho, portanto, que no curso de seu desenvolvimento, rompa, do modo mais radical, com as ideias tradicionais. Mas deixemos de lado as objeções feitas pela burguesia ao comunismo. Vimos acima que a primeira fase da revolução operária é o advento do proletariado como classe dominante, a conquista da democracia. O proletariado utilizará sua supremacia política para arrancar pouco a pouco todo capital à burguesia, para centralizar todos os instrumentos de produção nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado em classe dominante e para aumentar, o mais rapidamente possível, o total das forças produtivas. Isto naturalmente só poderá realizar-se, em princípio, por uma violação despótica do direito de propriedade e das relações de produção burguesas, isto é, pela aplicação de medidas que, do ponto de vista econômico, parecerão insuficientes e insustentáveis, mas que no desenrolar do movimento ultrapassarão a si mesmas e serão indispensáveis para transformar radicalmente todo o modo de produção.” (O Manifesto Comunista)

Vemos então que este processo de desenvolvimento do Capitalismo foi longo e não gerado a partir de uma única teoria política, sendo que ele é conhecido por causa disso como um “sistema social e econômico” e não uma “teoria política” como é o Socialismo e o Anarquismo, embora ele tenha se ligado intimamente aos conceitos do Liberalismo ao longo da história por melhor se adequar às suas características próprias. O Liberalismo Filosófico tem origem com John Locke (1632 –1704), filósofo inglês conhecido como o “Pai do Liberalismo”, e como o fundador do Empirismo, além de defender a liberdade e a tolerância religiosa. A filosofia política de Locke fundamenta-se na noção de um governo consentido pelos governados, da autoridade constituída e o respeito ao direito natural do ser humano à vida, à liberdade e à propriedade.

Segundo Gustavo Bertoche, “a metafísica sobre a qual o liberalismo se constitui é a metafísica da primazia do indivíduo diante do real e, portanto, de toda a coletividade. A essência do liberalismo está na afirmação da soberania metafísica do indivíduo: é o sujeito que, constituindo-se, constitui o mundo” e “No limite, o projeto liberal é o de tornar o indivíduo progressivamente independente de todas as relações de classe, de religião, de família… Assim, na visão de mundo liberal o indivíduo deve ser essencialmente livre para definir o que deseja ser para si mesmo e para os outros. Não é o seu meio – social, profissional, religioso, familiar – que o constitui: o indivíduo é auto constituído. Este é o lema implícito em todo o liberalismo: é o “eu” quem decide, é o “eu” quem estabelece.”

Já o Liberalismo Econômico é uma doutrina surgida no século XVIII (início do Capitalismo Industrial) e seu principal representante é o escocês Adam Smith (1723 -1790), considerado o “Pai da Economia Moderna” e o mais importante teórico do liberalismo econômico. Autor de “Uma Investigação sobre a Natureza e a Causa da Riqueza das Nações”, a sua obra mais conhecida, na qual procurou demonstrar que a riqueza das nações resultava da atuação de indivíduos que, movidos inclusive (e não apenas exclusivamente) pelo seu próprio interesse (‘self-interest’), promoviam o crescimento econômico e a inovação tecnológica. Sua obra “A Riqueza das Nações” popularizou-se pelo uso da expressão da “mão invisível do mercado”: segundo ela, os agentes econômicos atuando livremente chegariam a uma situação de eficiência, dispensando assim a ação do Estado para esse efeito.

 O Liberalismo Econômico defende a não-intervenção do Estado na economia, a livre-concorrência, o câmbio-livre e a propriedade privada e surgiu quando os Estados Nacionais estavam se constituindo na Europa (“Estado Nacional” significa a formação de uma unidade territorial, com características culturais comuns e um povo reunido sob mesmo poder político, ou seja: os países). Assim, um grupo de pensadores criticava na época o que eles consideravam uma excessiva intervenção do Estado na economia, deixando pouco espaço para a livre-iniciativa. Os liberais rebatiam as ideias do mercantilismo e dos fisiocratas que defendiam o controle do Estado na economia através de monopólios, altos impostos e proteção aos grêmios de profissões.

Para os liberais, o indivíduo é o agente econômico e, por este motivo, o Estado não deve interferir nas atividades econômicas com muitas regras. Se há algum desajuste, o próprio mercado o corrigirá naturalmente, ou seja, é ‘autorregulador’. Cabe ao Estado, no liberalismo, apenas a manutenção da ordem, a preservação da paz e a proteção à propriedade privada. Portanto, como o Capitalismo está intimamente ligado ao Liberalismo filosófico e econômico e também associado ao conceito da “Direita” no espectro político lateralizado com a Esquerda, devemos perguntar se é possível existir a suposta “Extrema Direita”, que foi associada ao Nazismo e ao Fascismo desde o século passado?

Se a Direita é definida com as seguintes características do Liberalismo: 1. Direito à propriedade privada, 2. Livre iniciativa; 3. Livre concorrência; 4. “Lei da oferta e procura” do mercado; 5. Lucro como o objetivo principal da produção; 6. Acumulação de riquezas; 7. Trabalho assalariado no lugar da servidão; 8. Interferência mínima do Estado encarregando-se apenas de regular a economia, cobrar impostos e cuidar do bem-estar dos cidadãos, como a Extrema Direita poderia ser um sistema político do tipo Nazismo ou Fascismo? Como poderia ser uma Ditadura do Estado? Isto romperia totalmente os preceitos básicos do Liberalismo, descaracterizando-o completamente!

Pela lógica, a Extrema Direita deveria ser os valores do Liberalismo levados ao extremo, o que fatalmente cairia na Anarquia, a teoria social e movimento político que sustenta a ideia de que “a sociedade existe de forma independente e antagônica ao poder exercido pelo Estado, sendo este considerado dispensável e até mesmo nocivo ao estabelecimento de uma autêntica comunidade humana”! Através de uma análise crítica da dominação, o anarquismo pretende superar a ordem social na qual esta se faz presente através de um projeto construtivo baseado na defesa da autogestão, principalmente no projeto liberal de tornar o indivíduo progressivamente independente de todas as relações de classe, de religião, de família.

Este “Anarquismo de Direita” (Anarcocapitalismo, Anarquismo de livre mercado, Anarquismo libertário, Anarquismo de propriedade privada ou Anarcoliberalismo) é uma filosofia política liberal que defende o direito à soberania do indivíduo através da propriedade privada e do Livre mercado, com a eliminação de qualquer tipo de Estado) e não seria semelhante às teorias anarquistas dos socialistas como o Anarcosocialismo, Anarcocomunismo e o Anarcossindicalismo, onde os sindicatos e comunidades de base seriam utilizados como instrumentos para mudar a sociedade, substituindo o Capitalismo e o Estado por uma nova sociedade autogerida pelos próprios trabalhadores.

O Anarcocapitalismo, proposto por Murray Rothbard (1926 – 1995), poderia ainda evoluir para o Libertarianismo (assim como o Socialismo evoluiria para o Comunismo/Anarcocomunismo), onde a educação, a saúde, a polícia, os tribunais e todos os outros serviços de segurança pública seriam fornecidos por concorrentes privados, em vez de subsidiados por impostos. O dinheiro e as moedas correntes seriam fornecidos de forma privada e competitiva num mercado aberto, através de um sistema bancário livre. Desta forma, as atividades pessoais e econômicas no Anarcocapitalismo seriam reguladas através de gestão e direito privado, e não pela lei da gestão política. Enfim, a verdadeira Extrema Direita! Embora o conceito do  Libertarianismo tenha se originado como uma forma de política anarquista da Esquerda, o “Libertarianismo de Esquerda” é uma denominação para variadas e distintas abordagens relacionadas no âmbito da teoria política e social e que enfatizam tanto a ausência do Estado quanto a igualdade social. Por uma ironia do destino ambos os extremos do espectro político se encontrariam em um mesmo ponto central com a total ausência do Estado, sendo que a Extrema Esquerda teria como objetivo promover a propriedade comum, a igualdade de renda e as decisões tomadas pelos sindicatos e comunidades de base e a Extrema Direita focaria na economia, na propriedade privada, nas privatizações e na liberdade individual!

Portanto, nunca existiu na prática ou na história nenhum partido de Extrema Direita! Mas, então, porque tantas pessoas associam o Nazifascismo com uma suposta Extrema Direita, se o próprio Mussolini disse em 1912: “Meu pai não me deixou nenhum bem, mas eu herdei dele um tesouro: a ideologia socialista. Juro permanecer fiel a este ideal até meu último dia de vida.”? A resposta é que Mussolini era socialista e depois que rompeu com o Socialismo científico de Marx ele passou a atacar os Comunistas italianos e chegou a escrever em seu testamento: “Como a evolução da sociedade refutou muitas das profecias de Marx, o verdadeiro socialismo retrocedeu do possível para o provável… O único socialismo que pode ser implementado socialisticamente é o Corporativismo, ponto de confluência, equilíbrio e justiça de interesses em relação ao interesse coletivo… Vinte anos de fascismo, ninguém será capaz de apagá-los da história da Itália”. Assim como também Hitler passou a atacar violentamente os Comunistas alemães após a sua prisão, surgindo por isso o movimento comunista Antifa (Antifascistas)! Hitler escreveu em seu “Mein Kampf“: “Se o judeu, com o auxilio do seu credo marxista, conquistar as nações do mundo, a sua coroa de vitórias será a coroa mortuária da raça humana e, então, o planeta vazio de homens, mais uma vez, como há milhões de anos, errará pelo éter. A natureza sempre se vinga inexoravelmente de todas as usurpações contra o seu domínio. Por isso, acredito agora que ajo de acordo com as prescrições do Criador Onipotente. Lutando contra o judaísmo, estou realizando a obra de Deus.” (p.64)

Quando buscamos a identificação das políticas da Extrema Direita, encontramos inexoravelmente as definições do Nazifascismo:

“A política de extrema-direita, também referida como “extremismo de direita”, é a política mais à direita do espectro político de esquerda-direita do que a direita padrão, particularmente em termos de ideologias e tendências anticomunistas, autoritárias, nacionalistas extremas e nativistas. historicamente utilizada para descrever as experiências do fascismo e do nazifascismo, hoje a política de extrema-direita inclui o neofascismo, o neonazismo, a Terceira Posição, a direita alternativa, a supremacia branca, o nacionalismo branco e outras ideologias ou organizações que apresentam aspectos de visões ultranacionalistas, chauvinistas, xenófobas, teocráticas, racistas, homofóbicas, transfóbicas, ou reacionárias.”1

“Extremismo de direita é um termo coletivo para ideologias e atividades políticas fascistas, neonazistas ou chauvinistas-nacionalistas. Eles são baseados na afiliação étnica, negam e lutam pela reivindicação de todas as pessoas por igualdade social e legal e representam uma compreensão anti-pluralista, anti-democrática e autoritária da sociedade. Politicamente, eles querem transformar o Estado-nação em uma “comunidade nacional” autoritária. “Povo” e “nação” são definidos de forma racista ou etno-pluralista.”

Podemos observar facilmente que estas definições são visões do espectro socialista, ou da Esquerda! E porque isso? A Extrema Direita é apenas o Nazifascismo? A resposta está na História do século passado e no surgimento do movimento Antifa.

“O movimento Antifa é uma conglomeração de grupos de esquerda. A principal característica dos grupos antifa é a sua oposição ao fascismo por quaisquer meios necessários. Eles atuam com táticas de militância em protestos expondo identidades de nazistas e fascistas e realizam manifestações “contra a extrema-direita”. Têm tendência a ser anti-capitalistas e são predominantemente militantes de esquerda, incluindo anarquistas, comunistas e socialistas. O seu foco declarado é lutar contra a “extrema-direita” e contra movimentos racistas, xenófobos e supremacistas brancos diretamente. O movimento se estrutura em parte de uma tradição antifascista nos Estados Unidos que remonta há um século atrás, traçando suas raízes nos anos 1920 e 1930, quando militantes esquerdistas que buscavam a união da esquerda ianque e estavam envolvidos em conflitos contra organizações pró-nazistas estado-unidenses, entre elas a Friends of New Germany. A linhagem Antifa na América pode ser traçada da Alemanha de Weimar, onde o primeiro grupo conhecido como “antifa” foi o grupo Antifaschistische Aktion, formado em 1932 com o envolvimento do Partido Comunista Alemão.”3

“O primeiro movimento alemão a chamar-se Antifaschistische Aktion foi proclamado pelo Partido Comunista Alemão (KPD) em seu jornal Rote Fahne em 1932 e realizou sua primeira manifestação em Berlim em 10 de julho de 1932, então capital da República de Weimar. Seu logotipo de duas bandeiras, projetado pela Associação de Artistas Visuais Revolucionários Max Keilson e Max Gebhard, continua a ser um símbolo amplamente utilizado de militantes antifascistas. O final da década de 1920 e início da década de 1930 viu crescentes tensões entre nazistas e esquerdistas. Berlim, em particular, foi palco de confrontos regulares e muitas vezes violentos entre os dois grupos. Havia vários grupos paramilitares nazistas e anti-nazis. Do lado anti-nazista, incluíam o Reichsbanner Schwarz-Rot-Gold, dominado pelos social-democratas (formado em 1924), a organização comunista paramilitar e de propaganda Roter Frontkämpferbund (Frente de Combate da Frente Vermelha ou RFB, formada em 1924) e o comunista Kampfbund. No final de 1931, as unidades locais do Roter Massenselbstschutz (RMSS) foram formadas por membros do Kampfbund como estruturas autônomas e pouco organizadas sob a liderança, mas fora da organização formal do KPD, como parte do partido unido. política de frente para trabalhar com outros grupos de classe operária para derrotar o fascismo. Em maio de 1932, o Roter Frontkämpferbund foi banido e, após uma escaramuça entre membros nazistas e comunistas no parlamento, a Antifaschistische Aktion foi formada como uma ampla aliança na qual social-democratas, comunistas e outros poderiam combater a repressão legal e se envolver em autodefesa contra os paramilitares nazistas. Grupos chamados “Antifaschistische Ausschüsse”, “Antifaschistische Kommittees” ou “Antifaschistische Aktion”, todos tipicamente abreviados para Antifa, ressurgiram espontaneamente na Alemanha em 1944, envolvendo principalmente veteranos do KPD pré-guerra, KPO e política do SPD bem como alguns membros de outros partidos políticos democráticos e cristãos que se opuseram ao regime nazista. Em 1945, por exemplo, o comitê antifascista na cidade de Olbernhau incluía “três comunistas e três social-democratas”, enquanto o comitê antifascista em Leipzig “tinha nove membros, incluindo três liberais e cristãos progressistas”.”4

Mas se o Fascismo e o Nazismo não existem mais atualmente em nenhum governo do mundo, porque o termo continua sendo usado e inclusive aqui no Brasil? A resposta está em outro site alemão:

“O termo contém um conteúdo – politicamente “de direita” – e um componente formal – “extremismo”. Ambos os componentes são ambíguos e estão sujeitos a críticas. A divisão do espectro político em “direita” e “esquerda”, que remonta à disposição dos assentos na Assembleia Nacional Francesa de 1789, refere-se a um “meio” indefinido da sociedade, historicamente definido de forma muito instável. Posições que eram elegíveis para a maioria antes de 1945 e eram consideradas moderadas, como o revisionismo do tratado na República de Weimar, agora são consideradas extremistas de direita.”2

“Coloquialmente, os termos “extremismo de direita” e “radicalismo de direita” são frequentemente equiparados ou não claramente diferenciados um do outro. Brigitte Bailer-Galanda do Arquivo de Documentação da Resistência Austríaca criticada em 2008: “Infelizmente, há também o uso simultâneo e obviamente sinônimo de pelo menos os termos radicalismo de direita e extremismo de direita na literatura científica, o que causa e promove confusão conceitual mesmo entre os interessados.” Em 1924, o Vossische Zeitung chamou de radicais de direita “todos os grupos, federações e associações que se autodenominam parcialmente nacionalistas, parcialmente sociais alemães, parcialmente alemães, parcialmente nacional-socialistas […].” Desde 1970, o Escritório Alemão para a Proteção da Constituição tem utilizado o termo “extremismo de direita” para conteúdo e atividades que são anti- constitucional e contra a “ordem básica democrática livre” (freiheitliche demokratische Grundordnung FDGO) social para ser compreendido.”2

Ironicamente a “Teoria da Ferradura” diz que a extrema-esquerda e a extrema-direita, ao contrário de serem extremos opostos de um espectro político linear e contínuo, de fato acabam se aproximando, da mesma forma que o fim de uma ferradura. Esta teoria é atribuída ao escritor francês Jean-Pierre Faye. Proponentes da teoria demonstram uma série de similaridades entre a extrema-esquerda e a extrema-direita, incluindo governos autoritários ou totalitaristas. A teoria da ferradura diverge-se do convencional espectro linear esquerda e direita, assim como de outros espectros políticos multidimensionais. A teoria da ferradura tem sido alvo de críticas de ambos os espectros políticos, em especial daqueles que evitam qualquer similaridade com posições conflituosas, justamente por suas dissonâncias, mas também por aqueles que enxergam a teoria como uma simplificação ideológica, a qual ignoraria diferenças fundamentais nos dois campos políticos.5

Eu também concordo que existe um erro fundamental na Teoria da Ferradura, que é justamente relacionar o Nazifascismo com a Extrema Direita. O que os dois aspectos (Extrema Direita e Extrema Esquerda) têm em comum é justamente o “Estado Máximo”, a ditadura, o autoritarismo, o que, como já vimos anteriormente, é incompatível com a ideologia do Estado Mínimo da Direita!

Como tanto o Nazismo quanto o Fascismo se opuseram violentamente ao Comunismo de Extrema Esquerda da época (Marxismo histórico, revolucionário), eles passaram a ser considerados de Extrema Direita pelos próprios comunistas, o que é um grande erro histórico, filosófico e político, já que ambos os partidos se consideravam uma “Terceira Posição” (“Não acreditamos em programas dogmáticos, nesse tipo de estruturas rígidas que devem conter e sacrificar a realidade complexa em constante mudança. […] nos permitimos o luxo de ser aristocráticos e democráticos; conservadores e progressistas; reacionários e revolucionários; legalitários e ilegalitários, de acordo com as circunstâncias de tempo, local e ambiente, em uma palavra “da história”, na qual somos forçados a viver e a agir”. Discurso de Mussolini em 23 de março de 1921)! Concluímos, assim, que o Nazifascismo é um movimento político de “Terceira Posição” e nunca foi a “Extrema Direita”! Já no início do século XX, nos círculos do movimento Fascista nascente, surgiu a teorização de um sistema político, cultural, social e econômico novo, que se chamaria ”Terceira Posição” (Terza Posizione), “Terceira Via Fascista” (Terza Via Fascista) ou ”Terceira Alternativa” (Terza Alternativa), além do Capitalismo e do Socialismo e que incluia elementos de nacionalismo, corporativismo, anticapitalismo, sindicalismo nacional, expansionismo, progresso social, antiliberalismo e anticomunismo, se opondo às ideias de ”luta de classes” e do materialismo histórico (Marxismo científico), combinado com a censura de subversivos e maciça propaganda do Estado e culto à personalidade em volta do líder (populismo). 

Enfim, para resumir todas estas reflexões e para ser mais didático, vou anexar um diagrama que mostra esta nova concepção destas ideologias políticas e as suas posições dentro do espectro político.

Paulo Maciel

28/08/2021

Bibliografia:

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Adam_Smith]

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Capitalismo]

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Libertarismo#Filosofia]

[https://en.wikipedia.org/wiki/William_Belsham]

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Murray_Rothbard]

[https://pt.wikipedia.org/wiki/John_Locke]

[https://pt.wikipedia.org/wiki/Anarcocapitalismo]

[https://www.politize.com.br/sistema-capitalista-origem/]

[https://www.todamateria.com.br/capitalismo/]

[https://www.todamateria.com.br/liberalismo-economico/]

[https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/educacao/a-formacao-dos-estados-nacionais/61889#]

[https://www.politize.com.br/anarcocapitalismo/]

[https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/historia/capitalismo]

1 [https://pt.wikipedia.org/wiki/Extrema-direita#Hist%C3%B3ria_intelectual]

2 [ https://de.wikipedia.org/wiki/Rechtsextremismus]

3 [https://pt.wikipedia.org/wiki/Antifa_(Estados_Unidos)]

4 [https://pt.wikipedia.org/wiki/Antifaschistische_Aktion]

5 [https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria_da_ferradura]