A juventude de hoje e o colapso da sociedade
Quando olhamos para a juventude de hoje parece que não vemos solução para o futuro de nosso país e da humanidade!
Aqui no Brasil, em julho de 2023, o Brasil ficou como o segundo país, de um total de 37 analisados, com maior proporção de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que não estudam e não trabalham, a famosa “Geração Nem-Nem”! De 37 países analisados, o Brasil figurou em segundo lugar, ficando atrás apenas da África do Sul. Segundo o estudo Education at a Glance, 36% dos jovens de 18 a 24 anos não trabalham nem estudam.1 Estamos com quase 40% dos jovens brasileiros da “geração Z” (chamada em inglês zoomers, centennials e igeneration) nascidas entre os 1997 a 2010 (26 a 13 anos) sem trabalhar nem estudar!
No Japão mais de meio milhão de pessoas vivem isoladas socialmente. Elas são conhecidas como “Hikikomori” – na prática, pessoas solitárias que se afastam de todo o contato social e, muitas vezes, ficam anos sem sair de casa.2
Estima-se que existam cerca de 100.000 jovens na Itália que são hikikomori.3
Na Coreia do Sul, a capital Seul tornou-se o primeiro governo local do país a anunciar os resultados de uma pesquisa sobre isolamento social em janeiro de 2023, e estimou-se que 129.000 pessoas, ou 4,5% das pessoas com idades entre 19 e 39 anos, não conseguiram encontrar alguém que não fosse da sua família.3
Mas este problema com os jovens não é novo; basta lermos o que disseram alguns autores da antiguidade:
“O nosso mundo atingiu um estado crítico. As crianças já não dão ouvidos aos seus pais. O fim do mundo não pode estar muito longe.” (Sacerdote egípcio, 2000 a.C.)
“Esta juventude está podre no fundo do coração. Os jovens são maus e preguiçosos. Nunca serão como a juventude de outros tempos. Os de hoje não serão capazes de manter a nossa cultura.” (Inscrição em cerâmica encontrada nas ruínas de Babilônia, 2000 a.C.)
“Não vejo esperança para o nosso povo, se ele depender da frívola mediocridade de hoje, pois todos os jovens são indizivelmente frívolos… Quando eu era menino, ensinavam-nos a ser discretos e a respeitar os mais velhos, mas os moços de hoje são excessivamente sabidos e não toleram restrições.” Hesíodo (720 a.C.)
“Aqui tens o que acontece e outros pequenos abusos como estes. O mestre receia os discípulos e lisonjeia-os, os discípulos fazem pouco-caso dos mestres e dos pedagogos. De modo geral, os jovens imitam os mais velhos e disputam com eles em palavras e ações. Os idosos, por seu lado, sujeitam-se às maneiras dos jovens e mostram-se cheios de gentileza e petulância, imitando a juventude, com medo de serem considerados enfadonhos e despóticos.” Sócrates (470-399 a.C.)
Por alguns anos eu pensava que estas frases ancestrais simplesmente refletiam o famoso “conflito das gerações”, que ocorrem por conta do choque de visões de pessoas que nasceram em tempos distintos. Isto é: são problemas culturais, que se explicam nos contextos que abrangem cada geração.
Cada época é marcada por determinados acontecimentos culturais, políticos, sociais e econômicos que impactam o contexto de vida, a visão de mundo e a forma de se relacionar das pessoas que nascem e vivem em determinado período. Essa é a ideia que embasa a divisão por grupos geracionais. Não há um consenso sobre o ano em que começa e termina cada um, mas uma divisão possível é Baby Boomers (nascidos entre 1946 e 1964), Geração X (1965 a 1980), Geração Y ou Millennials (1981 a 1996) e Geração Z (1997 a 2010). Há ainda a recente Geração Alfa, que compreende os nascidos a partir de 2010.4
Aquelas frases antigas parecem se referir aos nossos jovens e adolescentes atuais e por isso comecei a refletir se, em vez de representarem apenas o “conflito das gerações”, exista outro fator muito mais profundo e perigoso em jogo… E aí resolvi pesquisar o que estava acontecendo na história daqueles povos, naquelas épocas mencionadas e o que descobri foi estarrecedor! Senão, vejamos:
Nos séculos finais do “Antigo Império”, o Egito sofreu com várias adversidades que prejudicaram diretamente a manutenção de um governo controlado sob a autoridade faraônica. A população passou a se rebelar contra o próprio Estado e os monarcas apoiaram a volta de um sistema político descentralizado. Entre os anos de 2300 e 2000 a.C. a ruína econômica e as contendas internas possibilitaram a invasão de povos provenientes da Ásia que se estabeleceram no Delta do Rio Nilo, região norte do Egito. Somente nas últimas décadas do século XXI a.C., os egípcios reassumiram o total controle do território graças à atuação militar do faraó Mentuhotep II, que também teve que enfrentar a resistência dos monarcas ao projeto de ressurgimento do Estado centralizado. Esta era a situação da época em que o sacerdote egípcio escreveu suas frases sobre o “fim do mundo”.
Em relação à Babilônia, seu início civilizacional foi marcado pelo período paleobabilónico (c. 2000 a 1595 a. C.). Em 2000 a. C. deu-se a queda da dinastia de Ur, com a invasão da Mesopotâmia pelos Amorritas. Conquistaram uma vasta série de cidades-estado, onde estabeleceram novas dinastias e foram progressivamente se adaptando à região babilónica. As guerras internas e as diversas dinastias, os habitantes anteriores e os novos emigrantes, provocaram uma considerável confusão durante este primeiro período, em que foi escrito o texto babilônico.
Quanto a Hesíodo, o poeta viveu em um período de conflitos e tensões que antecederam a codificação das leis na Grécia antiga, implicado no processo de alterações econômicas e aumento demográfico no interlúdio do século XI ao VIII a.C. Hesíodo protestava contra a arbitrariedade do governo dos aristocratas, processo pareado com a restrição do poder dos aristocratas que em muitas regiões era levado a cabo pelos tiranos. Esse baluarte contra o despotismo foi a erupção inicial na agitação política que produziu as organizadas cidades-estado.
Finalmente Sócrates e Platão viveram na época da Guerra do Peloponeso, um conflito armado entre Atenas e Esparta, que durou de 431 a 404 a.C. Sócrates foi, inclusive convocado à guerra como general, mas ao final do conflito, com a intenção de salvar os poucos soldados que estavam vivos, ele ordenou que todos voltassem rapidamente para Atenas, mas deixassem os mortos no campo de batalha – contrariando uma lei que obrigava o general a enterrar todos os seus soldados mortos, ou morrer tentando. Assim, ao chegar, ele foi preso e depois foi libertado. O declínio de Atenas marcou a ascensão de Esparta, desfazendo a unificação política do mundo grego, que foi posteriormente conquistada pelo rei macedônico Filipe II, no século IV a.C. Já a juventude de Platão transcorreu em meio a agitações políticas e a desordens devido à Guerra do Peloponeso, a instabilidade política reinava na cidade de Atenas que foi tomada pela Oligarquia dos Quatrocentos e assim submeteu-se ao governo dos Trinta Tiranos.
Resumindo esta análise, acredito que a visão que os mais velhos tinham dos jovens das suas épocas era causada mais pela decadência das suas sociedades, do que pelo conflito das gerações. Suas frases eram muito fortes, dramáticas, e denotavam a desestrutura social e a falta de perspectiva de futuro a partir daquelas gerações. Exatamente como estamos vivendo atualmente!
Um texto que circulou nas redes sociais e foi falsamente atribuído ao psiquiatra Augusto Cury, chamado “A triste geração que se estressa e se frustra por tudo”, diz que a atual geração:
“Andam de carro, Uber, táxi… Não lavam suas cuecas, nem suas calcinhas. Não buscam conhecimento. Nem espiritualidade. Não se encantam com decorações natalinas, nem com um ipê florido no meio da avenida. Reivindicam direitos de expressão e não oferecem nada em troca. Nenhuma atitude. Consideram-se vítima dos pais. Julgam. Juízes duros! Impiedosos! Condenam. Choram pelo cachorro maltratado e desejam que o homem seja esquartejado. Compaixão duvidosa. Amorosidade mínima. “Preciso disso! Tem que ser aquilo!” E haja insatisfação! Infelicidade. Descontentamento. Adoecimento. Depressão. Suicídio… Geração estragada. Inconformada. Presa em suas desculpas. Acomodada em suas gaiolas de ouro. Postam sorrisos, praias paradisíacas, mas não se banham no mar curador. Limpam o lixo na praia com os amigos e não arrumam a própria cama. Em casa, estampam tristeza, sofrimento, dor… a dor de ter que crescer sem fazer por onde… merecer.”
Embora muitos destes comportamentos tenham a ver com a atual geração, temos que admitir que não são eles os responsáveis diretos por tudo isso, mas sim as gerações anteriores! Fomos nós, da geração Baby Boomers (1946 e 1964) e da geração X (1965 a 1980), que criamos as gerações Y (1981 a 1996) e Z (1997 a 2010).
E, buscando as causas deste comportamento destas gerações, encontrei algumas possibilidades:
- Nós cancelamos o conceito da “autoridade” e nos tornamos “amigos” dos nossos filhos, porque achávamos um absurdo o abuso de poder dos nossos pais, professores e líderes religiosos, que nos causavam medo e controle total.
- Nós deixamos de levar os nossos filhos para nossas religiões e os deixamos escolher “o que queriam seguir quando se tornassem adultos”, mas eles não escolheram nada além de serem céticos e científicos.
- Como nenhum dos pais tinha mais tempo para educar os seus filhos, porque ambos estavam trabalhando para pagar bons estudos para eles, nós entregamos a educação deles para a Escola. E as escolas foram cooptadas pelas ideologias progressistas.
- E como os pais não tinham tempo para os seus filhos, eles os encheram de brinquedos, tecnologias e o mundo virtual da Internet.
A geração Y desenvolveu-se numa época de grandes avanços tecnológicos e prosperidade econômica, e facilidade material, e efetivamente, em ambiente altamente urbanizado, imediatamente após a instauração do domínio da virtualidade como sistema de interação social e midiática, e em parte, no nível das relações de trabalho. Se a geração X foi concebida na transição para o novo mundo tecnológico, a geração Y foi a primeira verdadeiramente nascida neste meio, mesmo que incipiente.5
E a geração Z é a geração nativa digitalmente e nativa tecnologicamente, que corresponde à idealização e nascimento da WWW (World Wide Web, criada em 1990 por Tim Berners-Lee) e, no “boom” da criação de aparelhos tecnológicos modernos. A grande nuance dessa geração é zapear, tendo várias opções, entre canais de televisão, internet, videojogos e smartphones. Muitos membros da geração Z são os filhos da geração X.6
E os principais fatores sociais que estão levando esta geração e o mundo ao colapso global, são:
- A expansão da Ideologia Progressista, que se opõe ao Conservadorismo e atualmente chamada de “Marxismo Cultural”, que surgiu a partir da famosa Escola de Frankfurt, dos ensinos de Gramsci e aqui no Brasil da Pedagogia do Oprimido, de Roberto Freire. Este marxismo cultural procurou uma nova forma de atrair defensores do antigo Marxismo Científico ou Revolução do Proletariado, que matou mais de 100 milhões de pessoas no século XX. Os teóricos desta ideologia abandonaram o foco no “proletariado contra os burgueses” e se fixaram na polaridade “opressores e oprimidos” do Manifesto Comunista, mas identificando os oprimidos como todos aqueles que não são homens, brancos, capitalistas e religiosos: mulheres/Feminismo, gays/LGBTQIAPN+, negros/Wokismo, etc. Estes movimentos se propõe a desconstruir os alicerces do mundo dos Conservadores burgueses: família, religião e propriedade, propostas que foram amplamente aceitas e ensinadas nas escolas de todo o planeta.
- O crescimento de inúmeros líderes patológicos que, cheios de ambições de poder e com muitas armas nucleares, resolveram iniciar guerras de dominação e invasão territorial, como nas guerras da Rússia x Ucrânia, Faixa de Gaza x Israel e as intenções de Xi Jinping invadir Taiwan e o Kin Jon Um destruir os EUA.
- A extrema polarização que estamos vendo crescer em todo o mundo entre Capitalismo x Socialismo, Progressistas x Conservadores e Oprimidos x Opressores, tornando o planeta em um barril de pólvora que em breve irá explodir, já que o estopim está cada vez mais curto e as emoções que dominam o mundo são o medo e o ódio!
Enfim, nós estamos entregando o mundo às gerações Y e Z à beira da 3ª Guerra Mundial e do Caos globalizado! Temos que fazer o “mea culpa” e, principalmente, buscarmos uma solução saudável para o nosso querido planeta Terra e para o futuro da Humanidade, se existir uma saída!
E, buscando isso, aproveito-me dos mesmos textos de Platão em “A República”, onde Sócrates nos dá a causa da decadência social e a sua cura:
“Ao passo que, hoje, pelo seu comportamento, os governantes reduzem os governados a esta triste situação. E, no que diz respeito a eles próprios e aos seus descendentes, não é verdade que estes jovens são dissolutos, fracos para os exercícios físicos e intelectuais, indolentes e incapazes de resistir quer ao prazer, quer ao desgosto?”
“Que o pai se habitua a tratar o filho como seu igual e a temer os filhos dele. Que o filho se assemelha ao pai e não respeita nem teme os pais, porque quer ser livre.”
“Aqui tens o que acontece e outros pequenos abusos como estes: O mestre receia os discípulos e lisonjeia-os, os discípulos fazem pouco-caso dos mestres e dos pedagogos. De modo geral, os jovens imitam os mais velhos e disputam com eles em palavras e ações. Os idosos, por seu lado, sujeitam-se às maneiras dos jovens e mostram-se cheios de gentileza e petulância, imitando a juventude, com medo de serem considerados enfadonhos e despóticos.”
“E também descobrem essas regras que parecem de pouca importância e que os seus predecessores deixaram cair em desuso: Por exemplo, as que ordenam aos jovens que respeitem o silêncio, quando convém, em presença dos anciãos; que os ajudem a sentar-se, que se levantem para lhes cederem o lugar, que rodeiem os pais de cuidados — e as que respeitam ao corte dos cabelos, às roupas, ao calçado, ao aspecto exterior do corpo e outras coisas semelhantes.”
Será que nossa civilização tem solução, ou teremos que cair como as antigas civilizações e nos reinventarmos? Sócrates tenta achar uma solução para aquela juventude da época:
“E daremos aos mais velhos a autoridade sobre os mais novos, com o direito de punir. E os jovens não tentarão, sem autorização dos magistrados, usar de violência para com os mais velhos, nem feri-los; também não os ofenderão de qualquer outra maneira. Pois dois guardas serão suficientes para os impedir: o medo e o respeito; o respeito, mostrando-lhes um pai na pessoa que querem ferir, o medo, fazendo-lhes compreender que os outros irão em socorro da vítima, estes como filhos, aqueles como irmãos ou pais.”
Fica aqui a última questão: os “mais velhos” são dignos de corrigir os “mais jovens”? Temos nós moral para dar exemplo e ética para guiar esta atual geração, já que os principais psicopatas estão justamente no topo do poder mundial, cheios de ódio e de armas?
Ou estamos caminhando inevitavelmente para o colapso global que irá gerar, nos sobreviventes, as capacidades necessárias para criar um mundo melhor, como diz aquele famoso provérbio oriental: “Homens fortes criam tempos fáceis e tempos fáceis geram homens fracos, mas homens fracos criam tempos difíceis e tempos difíceis geram homens fortes”?
A sorte está lançada, que seja o que Deus quiser!
Paulo Maciel
31/12/2023
Fontes:
- https://www.moneytimes.com.br/brasil-fica-em-2o-lugar-em-ranking-de-geracao-nem-nem/
- https://www.bbc.com/portuguese/vert-fut-47441793
- https://ja.wikipedia.org/wiki/引きこもり#:~:text=引きこもり(ひきこもり、英%3A,ている人を指す。&text=なお、本項目では日本,に記載されている。
- https://jornal.usp.br/artigos/conflito-de-geracoes-e-a-arte-de-ensinar-na-sociedade-contemporanea/
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Geração_Y
- https://pt.wikipedia.org/wiki/Geração_Z