6. Os Escolarizados e os Opositores

doutorado

 

Os Escolarizados

Uma pequena parcela de brasileiros também é acusada de ser “elite” pelos petistas: as pessoas que foram formadas nas escolas, os letrados e os “doutores”. Assim, os “não burgueses” seriam os que não tiveram estudo formal. Isto fica claro nas palavras do Lula em seu discurso em Recife:

“Eu queria voltar à questão do preconceito… nós fizemos uma revolução neste nordeste brasileiro não apenas pela quantidade de universidades, escolas técnicas e PRONATEC, mas sobretudo, Dilma, na formação de doutores. Eu vou lhe dar um exemplo: quando nós começamos a nossa caminhada e tomamos posse em 2003, esse nordeste querido formava apenas 366 doutores por ano. Em 2002 foi formado 366 doutores. Em 2013, Dilminha, já foram formados 1.986 doutores no nordeste brasileiro. Nós formávamos, Dilma, 2002, 6.894 doutores no Brasil inteiro; em 2013, querida, já foram 14.254! Porque eu quero citar este número aqui? Porque é chique formar doutor. É tão chique, que era só São Paulo que formava doutor. É tão chique que era só o Centro-Sul do país e o nordeste estava relegado a nada, a praticamente nada. E nós então resolvemos dizer que nós, nordestinos, cansamos de ouvir as pessoas dizer que nós éramos muito importantes para ser pedreiro e para ser faxineiro e nós queremos ser engenheiro, nós queremos ser médico, nós queremos ser alguma coisa mais profissional, não desqualificando as profissão menor. … Nós somos pobre, mas nós temos orgulho, nós queremos progredir…”

“O que incomoda a elite da imprensa neste país? O que incomoda eles é porque durante 100 anos, a elite brasileira inteira que governou este país, conseguiu chegar, em 2003, colocando apenas 3 milhões de brasileiros nas universidades. Em 100 anos! E nós, Dilma, em apenas 11 anos colocamos mais 3 milhões na universidade; ou seja, nós fizemos, em 11 anos, o que eles levaram um século para fazer neste país. … E o PRONATEC que já colocou mais de 6 milhões de meninos e de meninas pra aprender uma profissão neste país. Isso incomoda, incomoda saber que o pobre está comendo melhor, que o pobre está frequentando as praças que eles frequentavam…” 1

Considero maravilhoso este esforço do PT em melhorar a condição intelectual do nosso povo, mas em vez de apenas vermos a quantidade de novos alunos, devemos também observar a qualidade destes mesmos alunos. Segundo o site Brasil Escola, podemos ver que: 

“O Brasil ocupa o 53º lugar em educação, entre 65 países avaliados (PISA). Mesmo com o programa social que incentivou a matrícula de 98% de crianças entre 6 e 12 anos, 731 mil crianças ainda estão fora da escola (IBGE). O analfabetismo funcional de pessoas entre 15 e 64 anos foi registrado em 28% no ano de 2009 (IBOPE); 34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler (Todos pela Educação); 20% dos jovens que concluem o ensino fundamental, e que moram nas grandes cidades, não dominam o uso da leitura e da escrita (Todos pela Educação). Professores recebem menos que o piso salarial (et. al., na mídia)” 2

Como explicar o absurdo de que “34% dos alunos que chegam ao 5º ano de escolarização ainda não conseguem ler”?

“Com um dos piores ensinos de matemática e ciências do mundo, o Brasil reduz sua capacidade de adaptação ao mundo digital. Um informe apresentado em abril de 2013 pelo Fórum Econômico Mundial aponta que o País subiu apenas da 65.ª para a 60.ª posição entre as nações mais preparadas para aproveitar as novas tecnologias em seu crescimento. Além do ranking sobre capacidade de adaptação ao mundo digital, o Fórum divulgou outros dois, referentes ao ensino de matemática e de ciências. Entre os 144 países avaliados, o Brasil aparece no 116.º lugar em educação, atrás, por exemplo, de Chade, Suazilândia e Azerbaijão. Em ciências, Venezuela, Lesoto, Uruguai e Tanzânia estão melhores posicionados no ranking que o Brasil, que ocupa a 132.ª posição.” 3

Já em 2014 o Brasil caiu ainda mais neste ranking:

“O Brasil se distanciou da média de 40 países em um ranking que compara resultados de provas de matemática, ciência e leitura, e também índices como taxas de alfabetização e aprovação escolar. Esta é a segunda edição do relatório produzido pela empresa de sistemas de aprendizado Pearson (ligado ao jornal britânico Financial Times) e pela consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU). O Brasil aparece na 38ª posição do ranking, na frente de México e Indonésia – um avanço de um lugar, na comparação com a edição de 2012.

O indicador do ranking é composto a partir duas variáveis: capacidade cognitiva e sucesso escolar. Em 2012, o Brasil havia obtido um escore de -1.65; neste ano o indicador foi de -1,73, o que mostra que o país está mais distante da média dos 40 países. Já o México viu seu escore cair de -1,6 para -1,76. O sinal negativo indica que ambos os países estão abaixo da média dos 40 países. O Brasil piorou nas duas variáveis – tanto na capacidade cognitiva (de -2,01 para -2,06) quanto no sucesso escolar (de -0,94 para -1,08).

Ranking mundial de educação: Os cinco melhores: 1. Coreia do Sul. 2. Japão. 3. Cingapura. 4. Hong Kong. 5. Finlândia. Os cinco piores: 36. Colômbia. 37. Argentina. 38. Brasil. 39. México. 40. Indonésia.” 4

Por incrível que possa parecer, tudo isto está acontecendo porque a crença do PT está baseada naquilo que disse Lula em seu discurso: “Nós somos pobre, mas nós temos orgulho, nós queremos progredir!” Ou seja, em outras palavras, “nós queremos ser elite”!

O Estado brasileiro tem gasto com a educação o equivalente aos países ricos, mas os resultados estão sendo cada vez mais desastrosos. A razão de tamanha discrepância está no planejamento:

“Nos países desenvolvidos há um trabalho de longa data no sistema educacional, com priorização do investimento no ensino básico e fundamental, qualificação dos professores e combate a desvios e desperdícios. Mesmo os países emergentes, com destaque para a China, têm adotado com sucesso essa estratégia. No Brasil, o sistema, além de caótico, funciona às avessas. Gasta-se absurdamente mais com a universidade pública, que, pela peneira do vestibular, abriga os mais ricos. Além disso, são conhecidos os desvios de recursos pela via da corrupção, a lentidão na promoção de mudanças e pauperização da classe docente.” 5

Senão, vejamos: em 2010 o gasto do governo com a educação se divida assim: Ensino Superior, R$ 17.970,12; Ensino Médio, R$ 2.966,50; Ensino Fundamental da 5ª à 8ª séries: R$ 3.898,28; Ensino Fundamental da 1ª à 4ª séries: R$ 3.860,25; Educação Infantil: R$ 2.947,48 e Educação Básica: R$ 3.575,01! 6

O contexto de todo este tema está ligado ao antigo pensamento marxista de que “a educação era coisa de burguês”! Esta ênfase na Educação Superior começou com a Ditadura Militar (1968-1985):

“É neste contexto histórico-político que foi sancionada a lei de Reforma Universitária, a lei 5.540/68, baseada nos interesses do regime estabelecido. Esta Reforma proposta e instaurada pelo regime militar brasileiro trouxe consigo uma série de medidas que mudaram muitos aspectos da universidade pública nacional. Como não poderia deixar de ser a Universidade Federal Rural do Rio  de Janeiro também  foi  afetada por  estas medidas,  com  ainda mais  força  que  as  demais Universidades, pois no ano anterior à implantação da lei 5.540/68, esta passou por uma mudança ministerial, sendo transferida do Ministério da Agricultura para o Ministério da Educação o que acarretou uma série de problemas para esta Instituição, principalmente no âmbito econômico, segundo Otranto (2009).” 7

“Do ponto de vista teórico, a política educacional do regime militar se pautou na chamada ”teoria do capital humano”.  Segundo Arapiraca (1982), esta teoria foi importada dos Estados Unidos como ”diretriz de política social  para  países  em  desenvolvimento”,  ela  propunha  que  o  processo  de  educação escolar fosse considerado como um investimento que deveria redundar em maior produtividade. As habilidades e os conhecimentos obtidos com a escolarização formal representariam o ”capital humano” de que cada trabalhador se apropriava. A teoria propunha que bastaria investir nesse capital  para  que  o  desenvolvimento  pessoal  e  social  acontecesse.  Enfim,  ela  incentivou  os aspectos  quantitativos  do  sistema  escolar,  buscando obter  mais  rentabilidade  com  maior economia  de recursos,  isto  incidiu  diretamente  na  organização  administrativo‐burocrática  das universidades brasileiras.” 8

“O Partido dos Trabalhadores (PT) na Presidência da República escolheu, inclusive, a expansão da educação superior  como uma de suas plataformas políticas com o Programa de Apoio aos Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI). O resultado tem se mostrado um desastre. Universidades foram construídas em localidades com baixa demanda, enquanto outras expandiram o número de alunos sem que houvesse infraestrutura adequada. A Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por exemplo, aumentou em 520% o número de vagas, mas faltam laboratórios, refeitórios e até salas de aula nos novos campi criados. No Rio de Janeiro, a expansão acontece em universidades de lata (contêineres que servem de sala de aula e de depósito para material que deveria servir para cursos da UFF). Tudo isso proporcionado pela farra do desperdício de dinheiro público.Os escândalos recentes nas universidades federais mostram que ampliar o gasto não é condição suficiente para a reversão dos problemas da educação no país. Antes de tudo, é preciso saber planejar e gerir de forma eficiente os recursos públicos. “Não adianta ter muitas vagas e o ensino estar aquém do mínimo necessário”, disse Nilson Oliveira, do Instituto Fernand Braudel.” 9

O tão bem falado PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego) só foi criado pelo Governo Federal em 2011, com o objetivo de “ampliar a oferta de cursos de educação profissional e tecnológica”. 10

Um belíssimo programa do governo, já que o Brasil carece profundamente de técnicos bem formados. Mas o PT acaba caindo no antigo conflito dos burgueses x proletariados quando cria novos proletários com esta formação técnica:

“São vários tipos de curso do PRONATEC, por exemplo, Max, auxiliar administrativo, almoxarife, operador de caixa, vendedor, recepcionista, agente de informações turísticas, manutenção de computadores, torneiro mecânico, soldador, pedreiro, eletricista, azulejista, gesseiro, auxiliar de cozinha, garçom, balconista, manicure, esteticista, auxiliar de laboratório, agente de limpeza e conservação, desenhista, frentista e muitos outros, viu, Max?” Disse Dilma Rousseff 11

Não são estes mesmos, por acaso, os proletários definidos por Marx, que trabalham para os mesmos burgueses que o PT tanto quer exterminar?

Além disso, independente do curso técnico, o Ensino Médio reúne atualmente alguns dos piores indicadores da educação brasileira:

“É nessa etapa da educação básica que se concentram as maiores taxas de abandono escolar e também as notas mais baixas do IDEB, índice que mede a qualidade de nossas escolas. E o pior: a situação não está melhorando, como comprova relatório divulgado em março de 2013 pela ONG “Todos Pela Educação”. Os dados, compilados a partir de resultados de 2011 do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e da Prova Brasil, revelam que apenas 10,3% dos alunos brasileiros terminam o ensino médio sabendo o que deveriam em matemática – ou seja, quase 90% dos alunos não aprendem o esperado. É um retrocesso em relação à medição anterior, realiza em 2009, quando 11% dos estudantes do 3º ano sabiam o esperado na disciplina. Em 2003, esse índice era de 12,8%. Os resultados ficaram abaixo da meta estabelecida pela ONG para o ano de 2011 e colocam em xeque o objetivo traçado para 2022, ano do bicentenário da Independência: ao menos 70% dos estudantes com conhecimentos adequados a seu estágio escolar. Em língua portuguesa não houve retrocesso em relação 2009. Contudo, praticamente não houve avanços, e a cifra ficou longe da meta. Em 2009, 28,9% dos estudantes demonstraram dominar os conteúdos esperados. Em 2011, o número chegou a 29,2%. O relatório do Todos Pela Educação evidencia a fragilidade da rede pública de ensino. Quando analisadas separadamente, as escolas mantidas por governos das três esferas apresentam índices em média 5 pontos porcentuais abaixo da média nacional, que considera as redes pública e a privada. Nas escolas públicas do Alagoas, por exemplo, apenas 1,4% dos estudantes do 3º ano do ensino médio sabem o que deveriam saber em matemática. Isso significa que de cada 100 alunos, 98 não aprendem o esperado.” 12

É incrível como o discurso se inverte quando quem estava oprimido chega ao lugar do opressor:  “Nós somos pobre, mas nós temos orgulho, nós queremos progredir” Lula. Voltaremos a este tema no tópico  seguinte, com o ponto de vista do Catolicismo.

Um tema final em relação ao ensino no Brasil e que tem gerado conflitos ideológicos e administrativos é o Programa de Inclusão Social:

Inclusão Social  é um termo amplo, utilizado em contextos diferentes, em referência a questões sociais variadas. De modo geral, o termo é utilizado ao fazer referência à inserção de pessoas com algum tipo de deficiência às escolas de ensino regular e ao mercado de trabalho, ou ainda a pessoas consideradas excluídas, que não tem as mesmas oportunidades dentro da sociedade, por motivos como: Condições socioeconômicas; Gênero; Raça; Falta de acesso a tecnologias (exclusão digital).

A inserção dessas pessoas que se encontram a margem da sociedade ou o acesso as tecnologias aos excluídos digitais ocorre, geralmente, por meio de projetos de inclusão social, o que reforça a utilização desse termo. Porém, alguns autores defendem que não existe o “fora” ou “dentro” da sociedade, já que todas as pessoas são produtos dela.

O processo de inclusão social de pessoas com necessidades especiais tornou-se efetivo a partir da Declaração de Salamanca, em 1994, respaldada pela Convenção dos Direitos da Criança (1988) e da Declaração sobre Educação para Todos (1990).

Os projetos de inclusão social de maior repercussão são os seguintes:

– O processo de inclusão das pessoas com necessidades educacionais especiais nas escolas de ensino regular;

– A inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho nas empresas com mais de cem funcionários, proporcionalmente.

– O sistema de cotas para negros, índios e estudantes egressos da escola pública nas universidades;

A inclusão social, em suas diferentes faces, é efetivada por meio de políticas públicas, que além de oficializar, devem viabilizar a inserção dos indivíduos aos meios sociais. Para isso, é necessário que sejam estabelecidos padrões de acessibilidade nos diferentes espaços (escolas, empresas, serviços públicos), assim como é necessário o investimento em formação inicial e continuada dos profissionais envolvidos no processo de inclusão, principalmente dos professores.” 13

“No Brasil, essa visão se consolidou com a criação, em 2008, da Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Em cinco anos, de 2007 a 2012, o número de alunos com deficiência na escola regular passou de cerca de 306 mil para mais de 620 mil, um aumento de 102,78% (veja tabela). Diversas iniciativas do MEC têm auxiliado as redes públicas na tarefa de deixar para trás o modelo segregador que vigorava. Muito mais que recursos financeiros, a mudança depende de uma revisão de paradigma que ultrapassa as fronteiras da educação, dizendo respeito aos conceitos de inclusão da sociedade como um todo.” 14

O projeto é muito positivo e construtivo, mas ainda existem muitas barreiras a serem superadas:

O que faz uma escola ser inclusiva?

Em primeiro lugar, um bom projeto pedagógico, que começa pela reflexão. Diferentemente do que muitos possam pensar, inclusão é mais do que ter rampas e banheiros adaptados.

A equipe da escola inclusiva deve discutir o motivo de tanta repetência e indisciplina, de os professores não darem conta do recado e de os pais não participarem.

Um bom projeto valoriza a cultura, a história e as experiências anteriores da turma.

As práticas pedagógicas também precisam ser revistas. Como as atividades são selecionadas e planejadas para que todos aprendam?

Atualmente, muitas escolas diversificam o programa, mas esperam que no fim das contas todos tenham os mesmos resultados. Os alunos precisam de liberdade para aprender do seu modo, de acordo com as suas condições. E isso vale para os estudantes com deficiência ou não.

Como está a inclusão no Brasil hoje?

Estamos caminhando devagar. O maior problema é que as redes de ensino e as escolas não cumprem a lei. A nossa Constituição garante desde 1988 o acesso de todos ao Ensino Fundamental, sendo que alunos com necessidades especiais devem receber atendimento especializado preferencialmente na escola , que não substitui o ensino regular.

Há outra questão, um movimento de resistência que tenta impedir a inclusão de caminhar: a força corporativa de instituições especializadas, principalmente em deficiência mental.

Muita gente continua acreditando que o melhor é excluir, manter as crianças em escolas especiais, que dão ensino adaptado. Mas já avançamos. Hoje todo mundo sabe que elas têm o direito de ir para a escola regular.

Estamos num processo de conscientização. A escola precisa se adaptar para a inclusão?

Além de fazer adaptações físicas, a escola precisa oferecer atendimento educacional especializado paralelamente às aulas regulares, de preferência no mesmo local. Assim, uma criança cega, por exemplo, assiste às aulas com os colegas que enxergam e, no contraturno, treina mobilidade, locomoção, uso da linguagem braile e de instrumentos como o soroban, para fazer contas. Tudo isso ajuda na sua integração dentro e fora da escola.” 15

Em relação às “forças corporativas de instituições especializadas”, temos:

Inclusão escolar ainda é ponto polêmico no Plano Nacional de Educação

Lobby de Apaes influenciou senadores em prol de alunos com deficiência fora de salas regulares

A meta 4 do novo PNE (Plano Nacional de Educação) estabelece as formas para garantir a inclusão de alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades nas escolas. Em termos gerais, ela consolida a universalização do atendimento escolar a esses estudantes. 

Educadores têm opiniões divergentes quanto ao formato de uma educação inclusiva que seja eficiente para o desenvolvimento social e cognitivo do aluno com necessidades especiais.

Alguns especialistas defendem que os alunos com deficiência devam ser educados em salas regulares, junto a alunos sem necessidades especiais. Mas há também aqueles que avaliam ser melhor que estudantes com deficiência tenham uma educação diferenciada, à parte dos demais alunos.

Este debate se refletiu nas discussões sobre a meta no Congresso Federal. Enquanto a redação do texto da Câmara dos Deputados acentuou a inclusão de alunos com necessidades especiais em salas regulares, o texto revisado durante a tramitação no Senado Federal, em 2012, incluiu a possibilidade de a educação desses alunos ser feita de maneira separada.

Impasse mantido

O atual texto, sancionado pela presidente Dilma Rousseff, mantém ambígua a base ideológica e pedagógica que define a forma de inclusão de alunos especiais nas escolas brasileiras nos próximos dez anos, período de vigência do PNE.

Para Luiz Araújo, professor do Departamento de Planejamento e Administração da Unb (Universidade de Brasília) e doutor em educação pela USP (Universidade de São Paulo), a aparente confusão tem relação com lobby das Apaes (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).

Segundo o professor, a associação teria influenciado parlamentares quanto ao ensino de alunos com necessidades especiais fora das salas regulares.

— Não há um consenso sobre o tema.

Rodrigo Mendes, fundador do Instituto Rodrigo Mendes, organização que desenvolve programas de educação inclusiva, também destaca a existência de impasse sobre o tema e a atenta para as consequências disso.

— Há de se apontar uma involução conceitual decorrente da alteração do texto original, apresentado pelo MEC em 2010. Segundo ele, a educação especial deveria ser uma modalidade complementar à escolarização no ensino regular, e não substitutiva. Contrariando essa diretriz, o atual texto autoriza também as escolas especiais a desempenharem o papel da sala de aula regular.

Mendes afirma que, como consequência, o Brasil estará em dissonância com a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, da qual o Brasil é signatário.

— E desperdiçaremos a oportunidade de investirmos em uma pedagogia não homogeneizadora, que estimula o desenvolvimento de competências para o convívio com as diferenças.” 16

 

oposição

 

7. Os Opositores ao PT:

Vejamos os números: Nas eleições de 2002, o número de votos entre Lula e José Serra foram de 39.455.233 (46,4%) e 19.705.445 (23,19%) respectivamente, no primeiro turno e de 52.793.364 (61,27%) e 33.370.739 (38,72%) no segundo turno, que elegeu Lula pela primeira vez. Já no segundo turno, Lula foi eleito com 58,29 milhões de votos.

Já em 2010, Dilma Roussef teve 56,05% dos votos válidos, totalizando 55.752.092 votos, contra 43.710.422 de José Serra (43,95%); o total de eleitores era de 135 milhões (numa população total de 198,7 milhões), tendo 4,4% de votos nulos, 2,3% de brancos e 21,50% de abstenções.

Ou seja, 79.247.908 brasileiros não votaram em Dilma, que poderiam ser considerados a “elite” do país por se oporem aos planos do PT. Se isto fosse verdade, o Brasil teria uma elite de quase 80 milhões de pessoas, composta por todas as classes sociais e econômicas, de raças e crenças, o que seria um absurdo!

Além disso, os petistas e os simpatizantes do PT facilmente esquecem quanta oposição o partido fez contra a maioria dos projetos dos governos anteriores. A melhor coisa que o PT fez para a história da política brasileira foi ser uma oposição forte e constante por tantos anos a fio… Até parecia que o PT era adepto da famosa frase de Emiliano Zapata: “Se hay gobierno, yo soy contra.”

Relembrando alguns boicotes que o PT fez a Tancredo, Itamar e Fernando Henrique Cardoso:

1985: O PT foi contra a eleição de Tancredo Neves e expulsou os deputados que votaram nele.

1988: O PT votou contra a nova Constituição que mudou o rumo do brasil.

1989: O PT defendeu o não pagamento da dívida brasileira, o que transformaria o Brasil em um caloteiro mundial.

1993: Após a queda de Collor, ficou de fora da coalizão convocada por Itamar Franco.

1994: O PT votou contra o Plano Real e dizia que a medida era eleitoreira.

1996: O PT votou contra a reeleição. Hoje defende.

1998: O PT votou contra a privatização da telefonia, medida que hoje nos permite ter acesso à internet e mais de 150 milhões de linhas telefônicas.

1999: O PT votou contra a adoção do câmbio flutuante e as metas de inflação.

2000: O PT lutou contra a criação da Lei da Responsabilidade Fiscal, que obrigava os governantes a gastarem apenas o que arrecadassem, ou seja, o óbvio que não era feito no brasil.

2001: O PT votou contra a criação dos programas sociais no governo Fernando Henrique Cardoso: Bolsa Escola, Vale Alimentação, Vale Gás, PETI e outras bolsas eram classificadas como esmolas eleitoreiras e insuficientes. Estes programas, aglutinados, deram origem ao atual Bolsa família.
Quase toda estrutura socioeconômica do Brasil foi construída no período listado acima. O PT foi contra tudo e contra todos. 17

E agora os partidários do PT não suportam nenhum tipo de oposição, classificando qualquer um que vá contra seus projetos como “elite brasileira”… Até nos faz lembrar o Artigo 62 da Constituição Cubana: “Nenhuma das liberdades reconhecidas aos cidadãos pode ser exercida contra o estabelecido na Constituição e nas leis, nem contra a existência e os fins do Estado socialista, nem contra a decisão do povo cubano de construir o socialismo e o comunismo. A infração deste princípio é punível.”

Um aspecto fundamental de todas as Democracias é exatamente a existência de pelo menos dois partidos políticos que se oponham mutuamente, a fim de criar um senso crítico sobre a forma de governo do partido de situação. Vamos terminar este tópico com estas belas palavras de José Carlos de Oliveira Robaldo:

“É recorrente a ideia de que nas democracias é o povo (demos) quem detém o poder soberano sobre o poder legislativo e o executivo. Nas democracias representativas, como no caso do Brasil, os eleitores é que, em eleições livres, elegem seus representantes, daí o acerto da afirmação de que “As eleições numa democracia não podem ser fachadas atrás das quais se escondem ditadores ou um partido único, mas verdadeiras competições pelo apoio do povo.”

Com efeito, nas democracias representativas, como o próprio nome sinaliza, os candidatos eleitos é que governam em nome do povo (ou ao menos, assim deveria ser), logo, sobretudo em um país pluralista, a exemplo do Brasil, para que a democracia seja efetivamente representativa, os eleitos devem representar os mais variados segmentos da sociedade, daí, consequentemente, a importância da oposição.

Governo sem oposição é democracia de fachada, para não dizer ditadura disfarçada, salvo se a lógica da democracia for outra.

O peso e o contrapeso, ou se quiser, o contraponto deve ser feito pela oposição. O fiel da balança (equilíbrio da balança) é feito pela oposição, não por uma oposição do “quanto pior melhor”, mas, por uma oposição proativa, responsável e voltada para a defesa dos interesses da sociedade. Por melhor e bem intencionado que seja o governante, sempre haverá o risco do excesso, e que, muitas vezes, pode ocorrer até mesmo na busca do acerto.

O poder, como a prática tem demonstrado, na maioria das vezes, quando não seduz, corrompe. Como se sabe, o que justifica a existência do Estado é o homem, quer na sua dimensão individual, quer na sua perspectiva coletiva e não o contrário, o que é, muitas vezes, confundido pelos governantes.

Não se nega a importância do judiciário, do Ministério Público no controle do excesso praticado pelos governantes, mas o papel da oposição nesse sentido também é inegável e na maioria das vezes, preventiva, corta-se o mal pela cabeça.

O debate com uma oposição forte é importante, pois, em face do que, ainda que não evite o mal, ao menos, pode amenizá-lo. A rigor, quem estabelece a dialética (debate entre enfoques diferentes) é a oposição.

Muitas vezes não se nega a importância social da medida que o governante pretende implantar, mas o questionamento pode envolver outros aspectos, como por exemplo, a oportunidade, a conveniência, ou até mesmo, a metodologia (caminho/meio) utilizada ou até mesmo, melhorara-la.

É inegável que ninguém é dono da verdade absoluta, nem mesmo o detentor do poder eleito pela grande maioria. A relatividade das coisas está sempre presente. Para que a decisão seja a mais razoável possível, devem-se analisar as diversas faces da moeda, onde, em cuja discussão, a participação da oposição é fundamental.

Parece-me que não há dúvida de que a oposição está para a democracia, como o médico está para a saúde. Com efeito, ao invés de se combatê-la, o ideal é que fosse motivada e aplaudida, salvo quando seu propósito for o “do quanto pior, melhor”.” 18

 

Paulo Maciel

 

Fontes:

 

  1. http://www.youtube.com/watch?v=45Rp6QiLHpY&hd=1
  2. http://www.brasilescola.com/educacao/educacao-no-brasil.htm
  3. http://www.escolaaberta.com.br/?p=7448
  4. http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/05/140508_brasil_educacao_ranking_dg.shtml
  5. http://veja.abril.com.br/noticia/economia/e-preciso-inverter-a-logica-do-ensino-no-brasil
  6. http://veja.abril.com.br/noticia/economia/e-preciso-inverter-a-logica-do-ensino-no-brasil
  7. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/2.43.pdf
  8. http://www.histedbr.fae.unicamp.br/acer_histedbr/seminario/seminario9/PDFs/2.43.pdf
  9. http://www.senado.gov.br/noticias/OpiniaoPublica/inc/senamidia/notSenamidia.asp?ud=20120820&datNoticia=20120820&codNoticia=739552&nomeOrgao=&nomeJornal=Revista+Veja&codOrgao=47&tipPagina=1
  10. http://pronatec.mec.gov.br/institucional-90037/o-que-e-o-pronatec
  11. https://pt-br.facebook.com/BocaDoPovoSaoBernardoDoCampo/posts/543845325701567
  12. http://veja.abril.com.br/noticia/educacao/ensino-medio-brasileiro-era-ruim-e-esta-pior
  13. http://www.infoescola.com/sociologia/inclusao-social/
  14. http://revistaescolapublica.uol.com.br/textos/37/inclusao-para-todos-308482-1.asp
  15. http://www.bengalalegal.com/blog/?p=32
  16. http://noticias.r7.com/educacao/inclusao-escolar-ainda-e-ponto-polemico-no-plano-nacional-de-educacao-16062014]
  17. http://homemculto.com/o-boicote-que-o-pt-fez-a-tancredo-itamar-e-fhc/
  18. http://www.douradosagora.com.br/noticias/opiniao/democracia-sem-oposicao-jose-carlos-de-oliveira-robaldo

 


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