Por que os simpatizantes da Esquerda não veem os erros cometidos pelo governo?
Nestas minhas reflexões vou procurar trazer uma explicação mais aprofundada sobre as razões pelas quais os simpatizantes da Esquerda resistem tenazmente a rever os seus conceitos sobre política e economia. Vou buscar na Psicologia, na Sociologia e na História os motivos para tais resistências. Bem, vamos começar:
1. Crença.
Em primeiro lugar, porque todos os seres humanos acreditam que a realidade tem dois aspectos: um lado verdadeiro e um lado falso! Esta crença na dualidade é ancestral e multimilenar e criou todos os conflitos entre as polaridades, sejam elas políticas, religiosas ou científicas.
O primeiro conceito de dualidade histórica vem do Zoroastrismo, religião que admitia a existência de duas divindades, as quais representavam o Bem (Aúra-Masda) e o Mal (Arimã); da luta entre essas divindades sairia vencedora a divindade do Bem, Aúra-Masda. De acordo com os historiadores das religiões, algumas das suas concepções religiosas como a crença no paraíso, na ressurreição dos mortos, no juízo final e na vinda de um messias, viriam a influenciar futuramente o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo.
E é também da crença universal que todo o sofrimento do mundo é causado pelo lado mal da realidade. Por isso na Bíblia a Queda de Adão depende da maldosa serpente e os males do mundo vêm da Queda de Lúcifer na Terra…
Com a crença nesta dualidade, todos os seres humanos escolhem um dos lados da dualidade como verdadeiro e consideram o outro necessariamente como “falso”, “mal” ou “errado”. Na política mundial vemos, então, o constante conflito entre a Direita e a Esquerda, o Capitalismo e o Socialismo, cujo ápice no século passado gerou a famosa “Guerra Fria”. Esta guerra ideológica, cujos representantes máximos foram os Estados Unidos e a União Soviética, se estendeu entre o final da Segunda Guerra Mundial (1945) e a extinção da União Soviética (1991), quase levando a humanidade a uma Hecatombe Nuclear, que fez Einstein dizer:
“Não sei como será a Terceira Guerra Mundial, mas poderei vos dizer como será a Quarta: com paus e pedras…”
2. Ideologia
A partir desta crença na dualidade a teoria política veio evoluindo desde que a chamada “Assembleia Nacional Constituinte” durante o período da Revolução Francesa ganhou força política mediante as urgentes reformas que o país necessitava. O governo francês estava atolado em dívidas que atingiam a sustentação econômica de amplos setores da sociedade. Com isso, não suportando a pressão daqueles tempos difíceis, o rei Luís XVI organizou uma eleição em que representantes políticos votariam novas medidas que pudessem sanar tantos problemas.
Nos fins do século XVIII a França ainda era uma nação essencialmente agrária, com uma produção agrícola estruturada no modelo feudal, enquanto a Inglaterra, sua grande rival, desenvolvia o processo de Revolução Industrial e transformava-se na maior nação capitalista. A população francesa compunha-se de aproximadamente 25 milhões de pessoas, das quais 20 milhões viviam no meio rural e uma grande parte desses camponeses ainda estava submetida a obrigações feudais.
Durante as reuniões da Assembleia Nacional as tendências políticas se separaram fisicamente: na ala direita do plenário estavam os integrantes do funcionalismo real, os nobres proprietários de terra, os burgueses enriquecidos e alguns clérigos que recusavam qualquer tipo de reforma que atingisse seus antigos privilégios; já na ala da esquerda sentavam os membros da pequena e média burguesia e demais simpatizantes, que buscavam uma grande reforma que aplacasse a grave crise nacional.
Com o passar do tempo os atos que marcaram o processo revolucionário francês determinaram a adoção dos termos “Direita” e “Esquerda”, onde os políticos “da Direita” representavam o interesse de grupos dominantes e a conservação dos interesses das elites e os políticos “da Esquerda” teriam uma orientação reformista baseada na conquista de benefícios às classes sociais menos privilegiadas.
E a partir da Revolução Industrial inglesa e o aparecimento das teorias de Marx sobre os burgueses e o proletariado, configurou-se definitivamente a ideia dos Capitalistas e dos Socialistas. Basicamente o Capitalismo priorizaria a livre iniciativa, a democracia e a liberdade, e o Socialismo enfatizaria o social, a intervenção do Estado na defesa do proletariado e a supressão da propriedade privada.
Eu vejo que nesta questão da ideologia as pessoas adeptas da Direita se dividem em três grandes grupos: 1. As pessoas que são pró ativas, individualistas e empreendedoras, que querem vencer na vida a partir dos seus próprios méritos e competências, pleiteando a “intervenção mínima do Estado”; 2. As pessoas que se consideram “superiores” ou “escolhidas” dentro de uma classificação específica e por isso merecem ascender social e economicamente; 3. Os sociopatas que desejam o poder a qualquer preço e que usam o discurso Capitalista para terem o apoio das massas votantes, oferecendo riquezas e prosperidades em seus discursos.
Já as pessoas simpatizantes da Esquerda se dividem em outros três grandes grupos: 1. Os de classe média que sentem compaixão pelos pobres e veem como injusta a imensa desigualdade social entre a “elite burguesa” e o “proletariado”, mesmo eles fazendo parte desta mesma elite da classe média; 2. As classes pobres e miseráveis que invejam a posição da “elite rica” e a desejam com raiva, inveja e amargor, exigindo que o governo socialista se aproprie dos bens de produção e os distribua igualmente; 3. Os sociopatas que desejam o poder a qualquer preço e que usam o discurso Socialista para terem o apoio das massas votantes, muitos deles tornando-se ditadores vitalícios e sanguinários.
Segundo Ludwig von Mises, “as pessoas que não conseguem progredir na vida por causa da sua falta de competência e de oportunidade desenvolvem um grande amargor em sua mente: elas relutam em admitir sua própria responsabilidade e descarregam na sociedade sua raiva pela sua total falta de sucesso, culpando a sociedade e virando socialistas”. E segundo Schumpeter, os principais inimigos do capitalismo não são as classes operárias, mas os intelectuais: “uma classe de eternos frustrados, pois, embora dotados de cultura, não detêm o poder”. Vemos estes intelectuais em massa em nossas universidades federais, que segundo Claude Jessua, “têm mentalidades essencialmente críticas, que prescrevem princípios morais, que transmitem lições e que enxergam sempre com maus olhos a burguesia”. A influência destes intelectuais é inegável porque se encontra na origem dos maiores movimentos revolucionários, quer se trate da Revolução Francesa ou da Russa, da Independência Americana ou Brasileira, a maioria delas patrocinadas pela secular Maçonaria.
De acordo com a teoria de Karl Marx, a Revolução Industrial iniciada na Grã-Bretanha em 1760 integrou o conjunto das chamadas “Revoluções Burguesas” do século XVIII, responsáveis pela crise do Antigo Regime (centralizado e absolutista, em que o poder era concentrado nas mãos do rei), e sua passagem do capitalismo comercial para o industrial. Os outros dois movimentos que acompanharam a Revolução Industrial foram a Independência dos Estados Unidos (1776) e a Revolução Francesa (1789) que, sob influência dos princípios Iluministas, assinalam a transição da Idade Moderna para a Idade Contemporânea.
Para Marx, o capitalismo seria um produto da Revolução Industrial e não sua causa. O grande problema histórico e social criado por Marx neste contexto da “crença” começou com a seguinte frase: “Até hoje, a história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história das lutas de classes.” E Engehls completa esta frase em uma nota de rodapé de 1888, dizendo que esta “luta de classes” não existia nas sociedades tribais comunistas primitivas e que “com a dissolução dessas comunidades primitivas, começa a divisão da sociedade em classes diferentes e finalmente antagônicas.”
E é justamente na crença desta luta antagônica de classes que Marx criou o “ódio de classes”, citado por Lula em seu discurso:
“Esta campanha está correndo o risco de ser uma campanha violenta, em que a elite brasileira está conseguindo fazer o que nós nunca conseguimos fazer: despertar o ódio de classe – ela está conseguindo fazer com que o ódio tome conta de uma campanha…” Lula da Silva 1
Marx completa o seu pensamento dialético da luta das classes, definindo quem são os opressores e quem são os oprimidos:
“Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suas classes em luta.
Nas primeiras épocas históricas, verificamos, quase por toda parte, uma completa divisão da sociedade em classes distintas, uma escala graduada de condições sociais. Na Roma antiga encontramos patrícios, cavaleiros, plebeus, escravos; na Idade Média, senhores, vassalos, mestres, companheiros, servos; e, em cada uma destas classes, gradações especiais.
A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado.
Entretanto, a nossa época; a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.”
E conclui que esta luta entre “opressores e oprimidos, em constante oposição”, só pode gerar “uma guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das suas classes em luta”.
Esta luta ideológica fez o mundo se dividir na polarização Direita x Esquerda, com as seguintes possibilidades dialéticas: capital x trabalho, burguesia x proletariado, indivíduo x sociedade, etc. Por causa desta dualidade ideológica, o Brasil está caminhando para uma luta declarada entre a Direita e a Esquerda, fomentada pela teoria de Marx de que o “mal do mundo” é a Burguesia elitista e o “bem mundial” é o Proletariado oprimido, talvez até chegar em uma guerra civil como aconteceu entre o Norte Democrata e o Sul Republicano dos Estados Unidos ou uma ditadura nos níveis de Nicarágua!
Eu sempre disse que “quem elegeu o Lula foi a esperança”, porque muitas pessoas diziam: “O Lula é a última esperança!” Esperança de salvar nosso país de ser vendido, privatizado e dominado pelo capitalismo americano. O Brasil saiu de uma Ditadura Militar com o PT fortalecido por suas lutas sociais e esta força foi crescendo durante os anos de domínio da Direita.
Para entendermos este longo processo das lutas dialéticas, vamos ao próximo tópico na página seguinte:
Fontes:
- http://oglobo.globo.com/brasil/a-nossa-vitoria-sera-nossa-vinganca-declara-lula-sobre-vaias-sofridas-por-dilma-12856989
- http://www.folhapolitica.org/2013/05/nao-lutavamos-pela-democracia-mas-pela.html
- Textos retirados do Filme “O Contragolpe 1964 – a Verdade Sufocada” de Glauco Barros, da Gobar Filmes.