Quem é a “elite” brasileira tão ferozmente atacada pelo PT?
Há anos lemos e escutamos o PT acusando as “elites brasileiras” como responsáveis por todos os problemas históricos, econômicos, sociais e ambientais de nosso país! Mas, afinal, quem é esta tal “elite brasileira”? Vejamos algumas frases do PT a respeito de nossa elite:
“A elite brasileira não gosta do Brasil e não se pode cultivar o que não se gosta. Se existe desprezo, não existe reflexão” Roberto da Matta 1
“Não vai ser a elite brasileira que vai fazer eu baixar a cabeça.” Lula da Silva 2
“Esta campanha está correndo o risco de ser uma campanha violenta, em que a elite brasileira está conseguindo fazer o que nós nunca conseguimos fazer: despertar o ódio de classe – ela está conseguindo fazer com que o ódio tome conta de uma campanha…” Lula da Silva 3
“Infelizmente, eu fui transformado em principal alvo da inveja da elite brasileira, que não se conforma com o papel do presidente Lula no crescimento do Brasil. Eu acabei sendo escolhido para ser um pouco o símbolo desse ressentimento, uma inveja, um ódio que eles procuram disseminar na sociedade contra nós (o PT).” José Dirceu 4
“O ódio a Lula é um ódio de classe, vem do profundo da burguesia paulista e de setores de classe média que assumem os valores dessa burguesia. O anti-petismo é expressão disso. Os tucanos são sua representação política.” Emir Sader 5
Mas ao procurarmos identificar a tal “elite brasileira”, nos deparamos com um grande enigma: “O diabo do problema”, diz J. R. Guzzo, “é que jamais se soube exatamente quem é a elite que faz a desgraça do Brasil. Seria indispensável saber: sabendo-se quem é a elite, ela poderia ser eliminada, como a febre amarela, e tudo estaria resolvido. Mas continuamos não sabendo, porque Lula e o PT não contam. Falam do pecado, mas não falam dos pecadores; até hoje o ex-presidente conseguiu a mágica de fazer discursos cada vez mais enfurecidos contra a elite, sem jamais citar, uma vez que fosse, o nome, sobrenome, endereço e CPF de um único de seus integrantes em carne e osso.” 6
Para compreendermos melhor tudo isso, vamos voltar na história e encontrarmos Karl Marx escrevendo que o conceito de Estado só existe em função de outro conceito inventado por ele: o da Luta das Classes – o Estado seria apenas um instrumento utilizado pela classe dominante para ocultar o antagonismo de classes e legitimar o modo de produção. Além disso, a classe dominante, ao fazer uso do Estado como instrumento, tornar-se-ia não somente a classe economicamente dominante, mas também a classe politicamente dominante. Marx chega mesmo a dizer que “o executivo no Estado moderno não é senão um comitê para gerir os negócios comuns de toda a classe burguesa”.7
Já no início do Capítulo I do Manifesto do Partido Comunista, Marx cria o mito da “luta de classes”:
“A história de todas as sociedades que existiram até nossos dias tem sido a história de lutas de classes. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária, da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta.” 8
E ao criar este mito, Marx justifica toda a sua teoria da opressão do proletariado e construção do Estado, propondo que os oprimidos façam a revolução e tomem o Estado em suas mãos, para depois destruí-lo! Em uma carta escrita para Weydemeyer (1852), Marx define claramente o seu horizonte político:
“Ora, no que me diz respeito, não sou eu que tenho o mérito de ter descoberto nem a existência das classes na sociedade moderna, nem a luta delas entre si […]. A novidade de meu trabalho consistiu em demonstrar: (1) que a existência das classes está exclusivamente ligada a fases históricas determinadas do desenvolvimento da produção; (2) que a luta de classes conduz necessariamente à ditadura do proletariado; (3) que esta mesma ditadura representa apenas uma transição para a abolição de todas as classes e para uma sociedade sem classes.” 9
Sendo assim, Marx acreditava que o desenvolvimento histórico da humanidade aconteceria em dois tempos:
- A expropriação dos expropiadores e a organização da economia pelos produtores associados: é a perspectiva de O Capital;
- A transformação revolucionária da sociedade de classes em sociedade comunista sem classes e sem Estado, passando por uma fase intermediária de um Estado que é apenas a “ditadura revolucionária do proletariado”. 10
Como Marx não previu a existência dos sociopatas fazendo a “opressão dos oprimidos”, mas apenas a “opressão dos burgueses”, a chamada “ditadura revolucionária do proletariado” nunca acabou nos países que fizeram as revoluções socialistas (Cuba, China, Rússia, Coréia do Norte, etc.)! O que aconteceu é que aqueles revolucionários se tornaram ditadores frios, sanguinários e impiedosos, dominando e matando milhões de indivíduos que estavam sob seus jugos insanos e psicopáticos!
Marx definiu a luta de classes de sua época como a luta entre os burgueses e os proletariados. Os “burgueses” eram os proprietários do capital, ou seja, os comerciantes, industriais, proprietários de terras, de imóveis e de mercadorias (roupas, especiarias, joias), enfim, os possuidores das riquezas e dos meios de produção. Eles eram o oposto do “proletariado”, a classe operária, cujo único bem era a força do trabalho.
A palavra burguesia vem de “burgo” (do francês Bourgeoisie e do latim “burgus”, que significa fortaleza, ou do alemão “burgs”, pequena cidade cercada por muros), nome dado às cidades medievais, habitadas em boa parte por mercadores, que foram chamados de burgueses. Essa burguesia comercial, enriquecida pela prática do comércio, que não era bem vista pelos integrantes da nobreza (os principais detentores do poder da época). foi aos poucos se infiltrando na aristocracia e passou a dominar a vida política, social e econômica a partir da Revolução Francesa, firmando-se no correr do século XIX.
Inicialmente desprezados pelos nobres, estes “novos ricos” eram os herdeiros da classe medieval dos vassalos, que passaram a dedicarem-se ao comércio e não apenas à produção para sobrevivência. Com o aparecimento do mito da luta de classes por Marx, a burguesia passou a ser identificada como a classe dominante do modo de produção capitalista e responsabilizada pelos males da sociedade da época.
Entretanto, falar em burguesia como classe social oposta aos proletários constitui um erro histórico, porque existem os burgueses (como habitantes dos burgos) desde o século XII, mas naquela época eles eram apenas mercadores ou comerciantes e não detentores dos meios de produção, que são identificados por Marx devido à Revolução Industrial. O quadro da sociedade europeia medieval era dividido em “Três Ordens” ou “Três Estados”, que se designavam por Clero, Nobreza e Povo.
A burguesia tinha como principal economia inicial o comércio, mas com o tempo acabaram criando as oficinas formadas por mestres, oficiais e aprendizes. Estas oficinas eram governadas pela corporação de ofício, formada pelos mestres de todas as oficinas de um mesmo produto.
Com o tempo a burguesia veio a diversificar-se em “alta burguesia”, detentora dos meios de produção, e “média” e “pequena burguesia” (no século XX designadas como classe média), que engloba aqueles que exercem profissões liberais e todos aqueles que estão ligados, de alguma forma, às altas esferas econômicas e às classes dirigentes.
A ascensão do burguês também se verificou através dos estudos: o acúmulo de riquezas possibilitava aos filhos dos mercadores estudarem nas universidades e tornarem-se letrados que auxiliavam o rei numa época de restauração do direito e de fortalecimento do poder real, que se chamou depois de ”Absolutismo”. Muitos destes letrados, filhos de burgueses que serviam aos reis foram recompensados com títulos da nobreza, gerando assim a fusão entre os dois grupos que antes rivalizavam (nobreza e comerciantes).
Ou seja, a “burguesia” é a classe social que nasceu do povo e foi acumulando riquezas: qualquer um que tiver algo a mais do que apenas a força do seu trabalho é burguês, e não proletário!
Engels escreve no capítulo IV do Manifesto Comunista: “Proletários de todo o mundo, uni-vos!”, em 1872. E em 1890 escreveria no Prefácio à edição alemã: “Só poucas vozes responderam quando gritávamos ao mundo estas palavras… mas a 28 de Setembro de 1864 uniam-se proletários da maioria dos países da Europa ocidental na Associação Internacional dos Trabalhadores, de gloriosa memória.” 11
O Manifesto criou o mito até hoje perpetrado da luta entre burgueses e proletários:
“A sociedade burguesa moderna, que brotou das ruínas da sociedade feudal, não aboliu os antagonismos de classes. Não fez senão substituir novas classes, novas condições de opressão, novas formas de luta às que existiram no passado. Entretanto, a nossa época; a época da burguesia, caracteriza-se por ter simplificado os antagonismos de classes. A sociedade divide-se cada vez mais em dois vastos campos opostos, em duas grandes classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado.” 12
Os petistas sempre se qualificaram como “proletários”, em oposição aos “burgueses”, mas aqui também existem distorções. Segundo o Manifesto, o proletário é apenas aquele que não tem nenhum meio de vida exceto sua força de trabalho (suas aptidões), que ele vende para sobreviver: “Por proletários compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, privados de meios de produção próprios, se veem obrigados a vender sua força de trabalho para poder existir. (Nota de F. Engels à edição Inglesa de 1888).” 13
Diz ainda:
“As armas que a burguesia utilizou para abater o feudalismo, voltam-se hoje contra a própria burguesia. A burguesia, porém, não forjou somente as armas que lhe darão morte; produziu também os homens que manejarão essas armas – os operários modernos, os proletários.
Com o desenvolvimento da burguesia, isto é, do capital, desenvolve-se também o proletariado, a classe dos operários modernos, que só podem viver se encontrarem trabalho, o que só encontram trabalho na medida em que este aumenta o capital. Esses operários, constrangidos a vender-se diariamente, são mercadoria, artigo de comércio como qualquer outro; em consequência, estão sujeitos a todas as vicissitudes da concorrência, a todas as flutuações do mercado.
O crescente emprego de máquinas e a divisão do trabalho, despojando o trabalho do operário de seu caráter autônomo, tiraram-lhe todo atrativo. O produtor passa a um simples apêndice da máquina e só se requer dele a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. Desse modo, o custo do operário se reduz, quase exclusivamente, aos meios de manutenção que lhe são necessários para viver e perpetuar sua existência.” 14
Resumindo, qualquer ser humano que tiver algum meio de produção que não seja apenas o seu trabalho, ou seja: comércio ou propriedade que renda lucro e ainda seja educado formalmente, é burguês. Portanto, se você está lendo este texto em sua casa e no seu computador pessoal, se você é letrado e tem alguma fonte de renda pessoal, significa que você é burguês e não proletariado!
Concluindo este pensamento histórico e percebendo que não existe sentido nesta luta do PT contra a “elite burguesa brasileira”, vamos então procurar identificar os possíveis personagens desta elite tão difamada, nas próximas páginas:
Paulo Maciel
Fontes:
- http://acervo.oglobo.globo.com/frases/a-elite-brasileira-nao-gosta-do-brasil-nao-se-pode-cultivar-que-nao-se-gosta-se-existe-desprezo-nao-existe-reflexao-9681922
- http://www.quemdisse.com.br/frase.asp?frase=52471
- http://oglobo.globo.com/brasil/a-nossa-vitoria-sera-nossa-vinganca-declara-lula-sobre-vaias-sofridas-por-dilma-12856989
- http://www.viomundo.com.br/politica/dirceu-diz-que-tentaram-torna-lo-exilado-dentro-do-proprio-pais.html
- http://www.cartamaior.com.br/?/Blog/Blog-do-Emir/O-dedo-do-Lula/2/27163
- http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/politica-cia/j-r-guzzo-lula-vive-vidao-de-rico-e-continua-denunciando-as-elites-as-quais-hoje-ele-gostosamente-pertence/
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf
- http://www.pcp.pt/publica/edicoes/25501144/manifes.pdf