O Budismo inspirando a filosofia do Mesaísmo

Esta página está sendo publicada em função do meu novo canal do Youtube, com vídeos sobre esta filosofia política! 

Este texto tem a função de embasar o meu nono vídeo do canal do Mesaísmo e aqui vou introduzir uma reflexão metafísica e filosófica baseada no Budismo sobre a questão de “ser de Centro” e “ser passivo ou não” diante das maldades das pessoas e dos conflitos entre as ideologias políticas.

O que a Teoria da Ferradura chama de “marasmo político” não tem, na verdade, nada de marasmo, já que ambos os lados da polarização política querem e exigem que os Moderados saiam de cima do muro e escolham um lado como aliados ou como inimigos!

No vídeo eu vou demonstrar que os Moderados têm, na realidade, dois inimigos e que eles devem se posicionar sim contra todos os desmandos, despotismos, ditaduras, corrupções e erros em qualquer tipo de governo em todo o planeta!

Vamos ao texto e o vídeo você pode encontrar no canal “Mesaísmo” do Youtube!

O Evangelho de Buda – Pregação de Buda, II – A Aniquilação

  1. Texto resumido:

Simha, famoso general dos exércitos reais foi ver Buda e ao encontrá-lo, perguntou-lhe: “Ó Buda, sou soldado e por ordem do rei cumpre-me o dever de respeitar a lei e de combater por ele. Se o Buda prega a bondade sem limites, o amor ao inimigo e a compaixão por todos os que sofrem, permitirá castigo para os criminosos? Crerá que não é lícita a guerra para defender nossos lares, nossas mulheres, nossos filhos e nossas terras? A doutrina da renúncia prescreve que devemos deixar o malfeitor agir a seu bel prazer, não resistir e deixar que nos roubem o que nos pertence? Crê o Buda que a guerra é ilícita quando promovida por uma causa justa?”

Ao que o Buda respondeu: “O Buda ensina que o culpado merece castigo, e o digno de favor deve ser favorecido. Porém também ensina que não se deve fazer sofrer nenhum ser vivente, mas ter o coração cheio de amor e compaixão. Estes dois ensinamentos não são contraditórios, por que quem recebe castigo por seus crimes, não sofre por maldade do juiz e sim em consequência de sua culpa. Suas más ações lhe acarretaram o mal que lhe inflige o executar da lei.

Quando um magistrado castiga, deve estar livre de todo ódio; e o criminoso condenado à morte deve considerar que seu suplício é consequência do seu crime, e se compreende que o seu castigo lhe purificará a alma, alegrar-se-á da morte.

O Buda ensina que é deplorável toda guerra entre os homens; porém não condena os que guerreiam por uma causa justa, depois de haver esgotado todos os meios de conservar a paz. O causador da guerra merece execração.

O Buda ensina a completa renúncia da personalidade, porém não ensina que a gente se entregue às potestades sinistras.

Deve haver luta entre a individualidade e a personalidade, pois a luta é a vida terrena; porém o combatente deve abster-se de combater contra a verdade e a justiça, no interesse de sua personalidade.

Aquele que luta pelo interesse egoísta de celebridade, grandeza, poderio ou riqueza, não receberá recompensa; porém o que combate pela justiça e a verdade, receberá o galardão, porque será vitorioso, mesmo que sofra alguma derrota transitória antes do triunfo final. …

O vencedor deve pensar na relatividade das coisas humanas. … Grande é um general vitorioso, porém maior é quem vence a sua personalidade. A lei da vitória sobre a personalidade não se prega para aniquilar as almas dos homens, e sim para preservá-las. O que venceu sua personalidade, está mais apto para alcançar o triunfo eterno do que quem continua escravo da personalidade.

Luta, pois, denodadamente, ó Simha, e combate com marcial esforço nas batalhas!”

  1. Texto amplificado:

Nessa ocasião, muitos cidadãos ilustres se reuniam na Casa do Povo e elogiavam ao Buda, o Dharma e o Sangha.

Entre eles se encontrava Simha, general dos exércitos reais, que pertencia à seita dos Nirgranthas, e dizia consigo: “Verdadeiramente o Bhagavad deve ser o Buda, o Santo. Quero vê-lo”. Simha aproximou-se de Iryataputra, o chefe da seita, e disse-lhe:

— Senhor, desejo ir ver o asceta Gautama. Iryataputra respondeu-lhe:

— Por que queres tu, Simha, que sabes que as ações dão seus resultados, ver o asceta que ensina aos seus discípulos a doutrina da inação e nega as consequências das ações?

Por isso não teve Simha mais tanto desejo de ir ver Gautama.

Porém, como Simha ouvisse novamente enaltecerem o Buda, o Dharma e o Shanga, reavivou-se lhe o desejo de ir ver o Bem-aventurado, embora desta vez ainda o dissuadisse Iryataputra.

Mas pela terceira vez Simha ouviu elogios à grandeza do Buda, do Dharma e do Sangha, e pensou: “Certamente o asceta Gautama deve ser o santo Buda. Irei vê-lo mesmo sem o consentimento dos Nirgranthas.

Simha foi ver o Bhagavad e disse-lhe:

“Senhor, ouvi dizer que o asceta Gautama nega as consequências das ações e ensina a doutrina da inação, dizendo que as ações dos homens não recebem recompensas, porque proclama a aniquilação. Responde-me, Senhor: é certo que ensinas que a alma do homem morre e se aniquila? Peço-te que me esclareça se os que dizem tal coisa, enganam-se ou levantam falso testemunho.”

O Bem-aventurado respondeu-lhe.

“Em parte, ó Simha, dizem a verdade os que assim falam de mim, mas em outra erram. Ouve-me: Eu ensino que não devemos pensar, não falar, nem agir mal. Ensino que não devemos consentir as sinistras disposições ou estados de ânimo. Ensino que nossos pensamentos, palavras e ações devem ser justos e que devemos estabelecer harmônicas disposições de ânimo.

Ensino, ó Simha, que se tem que aniquilar os maus pensamentos, palavras e ações, e quem os anula e se livra deles de sorte que jamais rebrotem, aniquila a personalidade.

Prego o aniquilamento do egoísmo, da luxúria, do ódio e do erro; porém não prego o aniquilamento da bondade, da compaixão, do amor e da verdade.

Digo que os maus pensamentos, palavras e ações são abomináveis, e que a virtude e a verdade merecem louvor.

Se alguns ensinam que o nirvana é a aniquilação da alma, dize-lhes que mentem. Se alguns ensinam que o nirvana é vida separada, dize-lhes que se enganam, porque ignoram a verdade; não vêem a luz que brilha através de suas lâmpadas partidas, e não sabem que a felicidade está fora da existência do tempo e do espaço”.

Simha respondeu:

— Resta ainda uma dúvida em minha mente. Queres dissipá-la de modo que eu possa compreender o Dharma que ensinas?

Consentiu o Senhor Buda e Simha prosseguiu:

— Ó Bhagavad, sou soldado, e por ordem do rei cumpre-me o dever de respeitar a lei e de combater por ele. Se o Tathágata prega a bondade sem limites, o amor ao inimigo e a compaixão por todos os que sofrem, permitirá castigo para os criminosos? Crera que não é lícita a guerra para defender nossos lares, nossas mulheres, nossos filhos e nossas terras? A doutrina da renúncia prescreve que devemos deixar o malfeitor agir a seu bel prazer, não resistir e deixar que nos roubem o que nos pertence? Crê o Tathágata que a guerra é ilícita quando promovida por uma causa justa?

Ao que Buda respondeu:

“O Tathágata ensina que o culpado merece castigo, e o digno de favor deve ser favorecido.

Porém também ensina que não se deve fazer sofrer nenhum ser vivente, mas ter o coração cheio de amor e compaixão. Estes dois ensinamentos não são contraditórios, porque quem recebe castigo por seus crimes, não sofre por maldade do juiz e sim em consequência de sua culpa. Suas más ações lhe acarretaram o mal que lhe infringe o executor da lei. Quando um magistrado castiga, deve estar livre de todo ódio; e o criminoso condenado à morte deve considerar que seu suplício é consequente do seu crime, e se compreendo que o castigo lhe purificará a alma, alegrar-se-á da morte.

O Tathágata ensina que é deplorável toda guerra entre os homens; porém não condena os que guerreiam por uma causa justa, depois de haver esgotado todos os meios de conservar a paz. O causador da guerra merece execração.

O Tathágata ensina a completa renúncia da personalidade, porém não ensina que a gente se entregue as potestades sinistras. Deve haver luta entre a individualidade e a personalidade, pois a luta é a vida terrena, porém o combatente deve abster-se de combater contra a verdade e a justiça, no interesse de sua personalidade.

Aquele que luta pelo interesse egoísta de celebridade, grandeza, poderio ou riqueza, não receberá recompensa; porém o que combate pela justiça e a verdade, receberá o galardão, porque será vitorioso, mesmo que sofra alguma derrota transitória antes do triunfo final.

O egoísmo não é recipiente adequado do êxito, porque a personalidade é frágil e pequena.

Pelo contrário, a individualidade é capaz de conter as aspirações nobres de suas personalidades sucessivas, e quando uma personalidade se rompe como uma bolha de sabão, seu harmônico conteúdo se identifica com a individualidade universal.

Quem vai à guerra, ó Simha, mesmo por uma causa justa, está exposto a morrer nas mãos dos inimigos, porque tal é o destino dos guerreiros.

Porém o vencedor deve pensar na relatividade das coisas humanas.

Brilhante pode ser sua vitória, porém pode girar a roda da fortuna e transformar a vitória em derrota.

No entanto, alcançará eterna vitória se, extinto o ódio em seu coração, se aproximar do vencido e dizer-lhe: “Vem agora, façamos as pazes e sejamos irmãos.”

Grande é um general vitorioso, ó Simha, porém maior é quem vence a sua personalidade.

A lei da vitória sobre a personalidade não se prega para aniquilar as almas dos homens, e sim para preservá-las. O que venceu sua personalidade, está mais apto para alcançar o triunfo eterno do que quem continua escravo da personalidade.

Luta, pois, denodadamente, ó Simha, e combate com marcial esforço nas batalhas; porém sê soldado deveras e o Tathágata te abençoará.”

Simha tornou:

“Glorioso Senhor. Senhor Gloriosíssimo. Revelaste-me a verdade. Magna é a doutrina do Bendito. Certamente és o Buda, o bem-aventurado, o Santo. És o Instrutor da humanidade, que nos ensina o caminho da libertação. Quem te seguir, terá luz na Senda. Encontrará paz e santidade. Senhor, eu me refugio no Bhagavad, na Lei e na sua Ordem. Digna te aceitar-me por discípulo até o fim de meus dias, pois me refugio em Ti”.

E o Bem-aventurado lhe disse:

— Considera antes, ó Simha, o que vais fazer. Convém que as pessoas de tua categoria não façam nada sem madura reflexão.

Aumentou a fé de Simha, que disse, ao Bem-aventurado:

— Senhor, se outros Mestres conseguissem tornar-me seu discípulo, levariam em procissão seu estandarte pela cidade de Vaisali, gritando: “Simha, o general dos  exércitos do rei, já é nosso discípulo”. Pela segunda vez, eu digo, ó Senhor, que me refugio no Buda, no Dharma e no Sangha. Digna-te receber-me por discípulo, desde hoje, e até o fim de meus dias, porque em Ti me refugio.

E o Bhagavad lhe respondeu:

— Durante muito tempo os Nirgranthas receberam oferendas em tua casa. É justo que daqui em diante não lhes negues tua esmola.

Alegre e feliz, Simha replicou:

— Senhor, eu ouvira dizer: “O asceta Gautama ensina que só a eles e aos seus discípulos deve ser dada esmola. Porém Tu me exortas a que também a dê aos Nirgranthas. Por mais este motivo me refugio no Buda, na Lei e na Ordem.

 

Fonte: [https://www.igrejacristapaulina.com/docs/o_evangelho_de_buda.pdf pp 42-45]