Os sociopatas são os inimigos?

O que eu tenho dito reiteradamente nesta teoria é que as pessoas têm uma tendência natural e instintiva de acreditar que “o diferente é o errado e o inimigo”. E a polarização política cria exatamente esta crença de que o outro lado do espectro é mal e errado!

Mas ao mesmo tempo tenho afirmado que “a personificação do mal são os sociopatas e psicopatas de todos os tempos” e que precisamos de uma teoria política que seja pacificadora e inclusiva. Como conciliar este aparente conflito e não condenarmos à priori todos os sociopatas e psicopatas do mundo, criando uma nova “caça às bruxas” como nos tempos da Idade Média ou nos “fascistas” dos tempos atuais?

A solução é simples: ninguém deve ser condenado apenas por ser sociopata ou psicopata, já que pelos estudos atuais eles nascem assim! Eles só podem ser julgados e/ou condenados pelos crimes que cometerem e não pelas suas naturezas. “A pesquisa de imagem por ressonância magnética funcional (FMRI) indica que os psicopatas são incapazes de experimentar emoções humanas básicas e sentimentos de culpa, remorso ou empatia”, afirmam o especialista em psicopata corporativo Paul Babiak e a consultora comportamental forense Mary Ellen O’Toole: “Eles exibem emoções apenas para manipular os indivíduos ao seu redor.”1

Na minha página “Tipos e Níveis de Psicopatias” vemos que existem tipos e graus variados deste Transtorno de Personalidade. Os psicopatas chamados “Comunitários” ou de grau leve, por exemplo, normalmente passam despercebidos nas relações sociais: são dissimulados, frios, racionais, mentirosos e manipuladores, mas raramente matam. Eles podem ser desde um falso colega oportunista que vive se fazendo de vítima, até trapaceiros, parasitas sociais, políticos, empresários e religiosos e raramente vão para a cadeia, mas quando esses indivíduos – por algum motivo ilícito – são presos, são tidos como presos “exemplares” pelo seu bom comportamento e logo conseguem sair da prisão por “bom comportamento”.

Já o psicopata do tipo “Dissimulado” tem um comportamento que se caracteriza por um forte disfarce de amizade e sociabilidade, mas costuma exibir entusiasmo de curta duração pelas coisas da vida e comportamentos imaturos de contínua busca de sensações. Este tipo tende a conspirar, mentir, a ter um enfoque astuto para com a vida social, a ser calculista, insincero e falso. Sua contundente falsidade é a característica principal deste subtipo, levando muitas vezes ao comportamento da “mitomania” (“mentira patológica” e “pseudologia fantástica”, a tendência duradoura e incontrolável para a mentira). O Psicopata Dissimulado age com premeditação e falsidade em todas suas relações, fazendo tudo o que for necessário para obter exatamente o que quer dos outros. Embora sejam fortemente manipuladores, raramente cometem crimes significativos e graves.

E existe um tipo fantástico de psicopatas que estão no topo do mundo e são admirados e copiados por todos à sua volta: os “Psicopatas Corporativos”!

Em seu livro “A sabedoria dos psicopatas: o que santos, espiões e assassinos em série podem nos ensinar sobre o sucesso”, o psicólogo inglês Kevin Dutton fez uma pesquisa onde encontrou uma lista das profissões preferidas pelos psicopatas:

  1. Presidentes de empresa (CEOs: Chief Executive Officers)
  2. Advogados (Juízes/Desembargadores)
  3. Profissionais da Mídia (Rádio e TV)
  4. Vendedores
  5. Cirurgiões
  6. Jornalistas
  7. Policiais
  8. Clérigos (Pastores e padres)
  9. Chefes de cozinha
  10. Funcionários públicos

Surpreendentemente encontramos os CEOs no topo da lista e estima-se que 1% da população adulta que trabalha é formada pelos chamados “Psicopatas Corporativos”: profissionais que não medem esforços para crescer e são capazes de ferir psicologicamente (quando não fisicamente) colegas de trabalho para conseguir o que almejam. Um estudo feito pelos pesquisadores americanos Paul Babiak e Robert Hare, dois experts no tema, afirma que cerca de 10% da população apresenta traços de psicopatia suficientes para ter impacto negativo em seus companheiros.2

Como o psicopata social, que se deleita com o sofrimento de suas vítimas, o corporativo não é louco mas é essencialmente mau. “Ele está ciente dos efeitos que seu comportamento tem nas pessoas ao seu redor, mas simplesmente não se importa”, diz o psicólogo australiano John Clarke, autor do livro “Trabalhando com Monstros – Como identificar psicopatas no trabalho e se proteger deles”. Neste livro ele explica como funciona a mente das pessoas que têm atitudes nocivas no ambiente de trabalho e como é possível se proteger e evitar os efeitos de suas ações. O especialista considera um “psicopata de escritório” a pessoa que intimida e ridiculariza os companheiros, que não demonstra empatia pelo ambiente ao redor, que abusa do charme para conquistar superiores e clientes ou que não vê problema algum em puxar o tapete de seus colegas para escapar de uma bronca ou roubar o crédito por uma conquista. Como adendo, o psiquiatra alerta que a demissão em episódios de abuso nem sempre é bem-vinda: em alguns casos, estes “psicopatas” trazem benefícios consideráveis à empresa e a convivência com eles precisa ser tolerada.

A lista de profissões de Kevin Dutton traz uma reflexão instigante e perturbadora: a sociedade vive sob a influência e o domínio dos psicopatas! Afinal de contas, não são os presidentes de empresas, os advogados/Juízes/Desembargadores, os profissionais da mídia, os vendedores, os cirurgiões, os jornalistas, os policiais, os religiosos e os funcionários públicos que conduzem, controlam e determinam a maior parte das nossas vidas? E a grande maioria deles, além de raramente cometerem grandes crimes, ainda são admirados, adulados e seguidos pela grande massa humana! E ironicamente eles costumam ser os modelos de sucesso, vitória, felicidade, conquista e habilidade enaltecidos pelos Coaches de todo o mundo!

E o que dizer dos políticos? A respeito deles, Dutton escreve: “Não é surpreendente que a política atraia um número desproporcional de psicopatas“. “Os políticos devem ser autoconfiantes, destemidos, muito bons em persuasão e manipulação e mentalmente duros para lidar com crises”, diz ele. “Um alto membro do parlamento britânico me disse que a única maneira de ver quem estava apunhalando você pelas costas era ver seu reflexo nos olhos da pessoa que apunhalou você pela frente.”3

“Nós os promovemos, os elegemos e, às vezes, muitas pessoas se sentem confortáveis ​​quando pessoas assim estão no comando de nossas vidas”, disse o psiquiatra de Nova York Dr. Igor Galynker. E como acontece com outras condições mentais, uma pessoa não é 100 por cento psicopata ou 100 por cento “normal”. “A psicopatia está em um continuum”, diz Galynker, o que significa que os traços e comportamentos psicopáticos se manifestam de maneira diferente em pessoas diferentes. “A política surgiu como uma profissão em que uma remessa oficial de psicopatia legalizada e de engenharia de precisão viria a calhar”, escreve Dutton.3

Como ilustra o livro de Kevin Dutton, as mesmas características que podemos usar para descrever os líderes da sociedade precisam apenas de um pequeno empurrão para se tornarem características que definem a psicopatia acelerada. Ele define os seguintes “traços de liderança dos psicopatas”: carisma, auto confiança, capacidade de influenciar, persuasão, visionário, assumir riscos, orientado para a ação, capacidade de tomar decisões difíceis e os “traços psicopáticos”: charme superficial, grandiosidade, manipulação, trapaça, impulsividade, fabricação de histórias, busca de emoção, frieza emocional.3

“Há dois mitos arraigados que estou tentando desmascarar”, explica o Dr. Dutton: “O primeiro é que todos eles são malucos ou maus. E o segundo, de você é um psicopata ou não é.” “Pelo contrário”, diz ele, “a violência predatória é apenas um de uma dúzia de traços de caráter que informam o psicopata autêntico. Entre os outros estão impiedade, charme, foco, inteligência, graça sob pressão, narcisismo, apetite de risco, necessidade de controle, distanciamento emocional e/ou falta de consciência. Apenas em casos extremos a crueldade sádica é adicionada à lista.”3

“Bill Clinton, Steve Jobs, Franklin Roosevelt, James Bond, John F. Kennedy, Vladimir Putin, Rei David, o Apóstolo Paulo – todos esses”, sugere o Dr. Dutton, “sem dúvida teriam uma boa pontuação em qualquer teste psicopático. O hipnotizador, o diretor executivo, o advogado ou cirurgião cardíaco tipo A, o clérigo carismático, o político galvânico, o ator principal, o sedutor – todos esses”, diz ele, “exibem tendências psicopáticas, e tanto mais eficazes porque são cuidadosamente veladas. O denominador comum é o alto desempenho. A principal diferença entre um psicopata com mentalidade criminosa e um psicopata funcionalmente bem-sucedido é o autocontrole. O primeiro tem seu dial de impulsividade aumentado”, diz o Dr. Dutton. “O outro é muito mais capaz de adiar a gratificação.”3

Por tudo isso é que não devemos e não podemos taxar os sociopatas e psicopatas como “o mal personalizado”, a não ser que eles tenham realmente cometido crimes e tenham sido condenados por suas faltas!

Ninguém pode negar que são considerados psicopatas os grandes assassinos da história humana como Adolf Hitler, Átila o Huno, Calígula, Charles Manson, Gengis Khan, Heinrich Himmler, Id Amin Dada, Mao Tse-Tung, Nero, Papa Doc, Pol Pot, Joseph Stalin, Tamerlão, Torquemada, Benito Mussolini e Saddan Hussein, assim como os serial killers, os estupradores, os traficantes, os homicidas e outros criminosos de todos os tempos e lugares. Estes, sim, podem ser considerados como “maus”, assim como julgados e condenados em conformidade com os seus crimes.

Concluindo, na área da política encontraremos muitos sociopatas em diversos graus, mas mesmo estes só deverão ser identificados como “inimigos da sociedade” se cometerem crimes e por eles forem julgados e condenados.

Paulo Maciel

07/09/2021

Bibliografia:

  1. https://www.cnbc.com/2016/11/18/why-psychopaths-are-so-good-at-getting-ahead.html
  2. https://istoe.com.br/189396_OS+PSICOPATAS+CORPORATIVOS/
  3. https://www.theglobeandmail.com/life/health-and-fitness/health/how-can-you-tell-if-someone-is-a-psychopath-not-all-are-predators/article4705262/